domingo, 24 de julho de 2022

António Gedeão - Poema de domingo

Do GOOGLE

Aos domingos as ruas estão desertas

e parecem mais largas.
Ausentaram-se os homens à procura
de outros novos cansaços que os descansem.
Seu livre arbítrio alegremente os força
a fazerem o mesmo que fizeram
os outros que foram fazer o que eles fazem.
E assim as ruas ficaram mais largas,
o ar mais limpo, o sol mais descoberto.
Ficaram os bêbados com mais espaço para trocarem as pernas
e espetarem o ventre e alargarem os braços
no amplexo de amor que só eles conhecem.

O olhar aberto às largas perspectivas
difunde-se e trespassa
os sucessivos, transparentes planos.

Um cão vadio sem pressas e sem medos
fareja o contentor tombado no passeio.

É domingo.
E aos domingos as árvores crescem na cidade,
e os pássaros, julgando-se no campo, desfazem-se
a cantar empoleirados neles.
Tudo volta ao princípio.

E ao princípio o lixo do contentor cheira ao estrume das vacas
e o asfalto da rua corre sem sobressaltos por entre as pedras
levando consigo a imagem das flores amarelas do tojo,
enquanto o transeunte,
no deslumbramento do encontro inesperado,
eleva a mão e acena
para o passeio fronteiro onde não vai ninguém.

António Gedeão

quarta-feira, 13 de julho de 2022

segunda-feira, 11 de julho de 2022

DESABAFOS MEUS

 

1- Recém-nascido encontrado em arbustos no Estoril ainda com cordão umbilical


Porque não dar locais onde possam entregar com condições sem serem julgadas? O que fazem todas as igrejas de diversas religiões? Nada, rigorosamente nada! Antigamente havia a famosa "Roda" julgo no Rossio, hoje só para turista ver. Não consigo imaginar o que leva uma mãe a fazer isto mas deve estar muito, mas muito doente! 


Concordo com as suas palavras mas nos incêndios já deflagrados o que fizeram aos que praticaram "fogo posto"? Os apanhados qual foi a sentença?
Nisto junto e acho que não estou enganada,  a "especulação imobiliária" foi assim que principalmente na Tapada das Mercês, ano após ano queimaram um enorme pinhal onde eu levava as filhas para um piquenique e puderem brincar à vontade com outros que também iam desfrutar. O lixo era posto nos sacos que trazíamos e era uma maravilha.
Hoje mais parece um pombal de betão. Restou uns bons bocados  para o lado de Rio de Mouro e toca a queimar. Não me venham com desculpas esfarrapadas que é da onda de calor, que pode ocorrer, mas limpar as matas não é trabalho para todos, porque trabalhar faz calos! 
Já agora porque não fazer o mesmo nos arredores da casa do vizinho (velho ou ausente)  e  praticarem a boa vizinhança?


Nem comento porque a memória de muita gente é bem curta quer para políticos quer para os cidadãos. Afastem-se? Como assim?

4 - Termino com o caos nos aeroportos, no transtorno dos transportes públicos com greves do  "valha-me Deus" e sobre "o gajo feio para burros que congelou os neurónios e enlouqueceu assim como o seu rancho"

Se puderem fiquem bem porque sou positiva e acredito que tudo irá passar!!!!

sexta-feira, 8 de julho de 2022

TÉNIS - Nadal despede-se de Wimbledon com lesão









O ténis mundial conhece dois nomes como lendas: Roger Federer e Rafael Nadal. Mas as lendas também envelhecem e, cada vez mais, se torna óbvio que está a chegar o fim de uma era em que estes dois nomes dominaram os mais competitivos escalões do ténis mundial sem concorrência.

Nadal, que sofreu uma lesão abdominal, e que venceu na Austrália e em Roland Garros este ano, acabou por ter de desistir do torneio de Wimbledon, o terceiro Grand Slam de 2022, em que tinha marcado encontro com o australiano Nick Kyrgios para decidir quem iria à final do torneio. O maiorquino de 36 anos – que venceu em Wimbledon em 2008 e 2010 – falha assim a luta por conquistar o terceiro Major nesta temporada, que seria também  o 22.º troféu em torneios do ‘Grand Slam’ da sua carreira.

DE: SAPO_SOL

Esta foto comoveu-me e diz tudo!

segunda-feira, 4 de julho de 2022

A Mulher Cão

 










(Sobre o quadro de Paula Rego)

Ela acendeu a brasa do fogão
anos e anos a fio.Esfregou o soalho
lavou a roupa e os vidros
da janela costurou bainhas
descosidas e levou toalhas a cheirar
a rosmaninho à senhora do andar
de cima.

Foi ao quintal buscar hortelã
para a canja e adormeceu ao som
das gargalhadas felizes dos meninos
hoje já todos engenheiros
com a Graça do Senhor.

Agora está atada ao côncavo
da terra por atilhos
grossos. Ladra à lua
e tudo nela
é carne e sangue.

Morde a mão
e dança a valsa
sobre o chão confuso
de algum sonho diluído lá no longe
nos botões do maestro
do coreto aos domingos e feriados.

Ela é grossa
e ladra à lua.
Sente o corpo a crepitar
e rasga o coração.

Inesperadamente
entre coágulos de sangue
fala línguas
que nunca ninguém lhe ensinou.

Está atada
à sangrenta forja
das gramáticas lunares e procura
uma palavra
um nome mesmo que obscuro
e difícil de entender.

É uma mulher grossa
e no côncavo do corpo
fala línguas
sem sentido.

Deixou secar os coentros
a salsa e a hortelã.

Chama-se cão e ladra à lua.

Vive atada
às chamas que a consomem.

José Fanha, in “Marinheiro de outras luas”

sábado, 2 de julho de 2022

A tradução do post anterior

 Depois de tanto "ximbicar"(remar à vara, espetando o bordão no fundo do rio),

encostei na margem o meu "ulungu"(canoa) e entrei no "muxito"(mata junto do rio).
Fui até ao "dilombe"(pequeno santuário) a ver se um "cazumbi"(duende)
pudesse fazer em mim uma "kipa"(magia que concede o poder da metamorfose).
Cansada recostei-me na velha "mulemba"(figueira africana bem frondosa)
e de "mataco"(cú) no chão esperei pelo "kimbanda"(especialista da magia)
e o seu "milongo"(remédio). Mas nada!

O meu pensamento foi "sembar"(dançar) e "singuilar"(passar a noite a conversar)..

- "Avilo"(amigo) quero "bazar"(fugir) porque estou com "bufunfa"(medo).
- "Avila"(amiga) qual é a "maka"(questão, conflito)? Vem cá "quilumba"(rapariga)
pois estou "banzo"(admirado, aparvalhado).
- "Dikamba"(amigo,companheiro) abraça-me e leva-me para a "kubata"(casa)
onde está a minha "minzangala"(juventude)!
- A tua? não, a nossa! Tupariova" (merda), vamos "mazé" (mas é) ver o nosso "cassuneira" (espécie de cato que chega a atingir 4 m de altura)e guarda este "jimbamba"(búzio) que te ajudará. Não "xingues" (praguejar) mais, doce "quilumba" (moça).

Adormeci!



Um relembrar da minha juventude!

 












Nunca falei fluentemente o Kimbundo, mas recordei algumas palavras...já tão esquecidas!!!!

Depois de tanto "ximbicar", encostei na margem o meu "ulungu" e entrei no "muxito". Fui até ao "dilombe" a ver se um "cazumbi" pudesse fazer em mim uma "kipa".
Cansada recostei-me na velha "mulemba" e de "mataco" no chão esperei pelo "kimbanda" e o seu "milongo". Mas nada!

O meu pensamento foi "sembar" e "singuilar"..

- "Avilo" quero "bazar" porque estou com "bufunfa".
- "Avila" qual é a "maka"? Vem cá "quilumba" pois estou "banzo".
- "Dikamba" abraça-me e leva-me para a "kubata" onde está a minha "minzangala"!
- A tua? não, a nossa! "Tupariova", vamos "mazé" ver o nosso "cassuneira" e guarda este "jimbamba" que te ajudará. Não "xingues" mais doce "quilumba".

Adormeci!

Depois se quiserem faço a tradução!