
Durante vários anos, na época do Natal eu e um amigo meu, tirávamos duas semanas das férias anuais, para trabalharmos noutras coisas. O que tínhamos em comum era a “necessidade” e uma grande "amizade".
Na véspera de entrarmos de férias, disse-me: Maria, sabes que este ano vou fazer de Pai Natal, a figura que tanto gostas? O quê? Vou visitar-te!!!
Como ele conhecia-me tão bem e sabia que sempre fui brincalhona e alegre, disse logo: vê lá o que vais aprontar, tu não me lixes...gargalhadas! Eu?????!!!
Recordo-me que nesse ano "estive duas semanas de férias" numa loja a fazer embrulhos e laçarotes! No final do dia lá fui visitar o Pai Natal, num dos grandes centros comerciais de Lisboa! Xiiii quanta canalha! Onde me vim meter!
Pus-me na fila das crianças e logo um segurança delicadamente disse: Não pode estar aí, tem que estar deste lado da corda, ao lado da criança que trás.Não tenho nenhuma criança, a criança sou eu e deixe-me ao menos uma única vez na vida falar com o Pai Natal. Riu-se, talvez pensando, coitada é louca! E fiquei!
O meu amigo ao avistar-me acenou disfarçadamente!
À minha frente uma garota lindíssima, puxou-me o casaco! Baixei-me ao seu nível e perguntou-me em surdina, numa conivência: que vais pedir ao Pai Natal? Eu? vou pedir um bonequinho pequenino igual a ele. E tu? Num sorriso de orelha a orelha disse-me baixinho: uma Barbie! E vais sentar-te no colo dele? Aí tremi, que responder? Coitado do meu amigo!!!olha não, porque como sempre comi a sopa toda, cresci muito e sou pesada. Ficou satisfeita com a resposta e sorriu!
Ela lá estava no colo do Pai Natal sussurrando ao seu ouvido as hipotéticas prendas. Quando saiu, fui até junto dele e numa risada total fui a delícia da petizada e possível chacota dos adultos porque não era todos os dias que uma mulher, de cabelos todos brancos ia falar com o Pai Natal, como uma criança! Mas o certo é que ninguém tirava os olhos de nós. Assentei-me a seu lado (no colo não, dou barraca naturalmente, mas seria demais).
Sussurrei-lhe: oh pá és um homem de sorte, no meio de tanta luta, tens a teus pés e em fila interminável o que de melhor há no mundo: as crianças e a esta Maria concretizaste um sonho: falar com o Pai Natal! Vim aqui para te dar força e dizer o que sempre soubeste: não estás só!!!! e dei-lhe um grande abraço.