quarta-feira, 30 de março de 2011

O lado humano de uma guerra!

"Uma imagem de John Gebhardt no Iraque" que ilustra o post "Uma foto real" do blogue REFLEXOS




















levou-me a uma das várias que vivi na primeira pessoa!

Morava perto do hospital militar de Luanda. Quando os helicópteros sobrevoam a minha casa, sabíamos que vinham mais feridos e as duas macas de fora, com mortos.
Todos os sábados visitava com o meu grupo num total de 17/18 jovens, aquele "arsenal" de "carne para canhão" de uma guerra estúpida (como se alguma fosse o contrário).
Durante a semana andávamos no peditório - revistas, tabaco, doces, bolachas e lá iamos fazer o que achavamos "por bem". Na entrada falávamos com o chefe das enfermarias e cada um ia para uma.
Para aqueles jovens militares éramos a luz, a palavra amiga, o saber a pouco, sei lá, mas uma das enfermarias, só eu e mais dois amigos é que conseguíamos ir. Porquê? porque eram os que mais hora menos hora morreriam.

Certo dia, ainda cá fora ouvia uns gritos "Cátia, Cátia" e pela minha cara o enfermeiro disse com aquele ar tão doce: Fatyly mais uns quantos amiga, mas o que ouves não sossega por nada deste mundo, nem com a quantidade de sedativos que o médico já lhe deu. Não sei quem seja a Cátia, mas há horas que está naquilo.
Entrei e deparei-me com uma autêntica múmia, todo envolto em ligaduras e só se via uma mão que bracejava, os olhos semi-abertos e a boca de onde se ouvia o chamamento..."Cátia, Cátia". Sentei-me ao lado dele, dei-lhe a mão e disse: estou aqui. Ainda hoje sinto o aperto daquela mão enorme. Vá sossega, não estás só e fiz-lhe imensas festas no cabelo, beijei-o na mão e na face. Começou a sossegar, a sossegar e adormeceu. Só o deixei quando a mão dele largou a minha, onde ficaram três nódoas negras em forma de dedos e que o enfermeiro logo tratou!
Podem imaginar uma situação destas? não, mas com 17 anos tinhamos o factor humano em alta, mas tão revoltados com aquela maldita guerra...! Viamos o trabalho de médicos e enfermeiros, brancos ao lado de pretos...todos unidos numa única missão: salvar vidas!
No dia seguinte antes de ir para o trabalho, passei por lá e aquele jovem desconhecido tinha morrido às 5 da manhã. O enfermeiro ainda quis mostrar-me a foto, mas eu disse não...porque para mim a maioria eram jovens "sem rosto" por terem sido arrancados das suas aldeias e cidades, das suas famílias para matas que não faziam a menor ideia do que, e como eram.

Sucedeu-me com outro, mas menos violento de aguentar porque estava em coma...o tal soldado desconhecido que foi igualmente tratado com tudo o que era preciso e afinal era o que se apelidava de "turra", mas longe das mentes maquiavélicas dos "senhores da guerra".

São estas histórias reais que os "senhores da guerra colonial" jamais tiveram a coragem de contar, excepto um "grande autor e senhor" que na sua profissão de médico, socorria, tratava, operava quem lhe surgisse de ambas as barricadas.

Também nunca ninguém falou ou escreveu, como enganaram tantas famílias da metrópole com a vinda de caixões com todas as honras militares...a honra militar salazarista para com um jovem cujo corpo foi pulverizado mas... virou "pedras". Já nem falo dos mutilados e os que sofrem hoje do stress-traumatico de guerra, doença que se manifesta muitos anos depois. Não tinha tempo para visitar outros hospitais com feridos civis pela guerra que se misturavam com outros com várias patologias. As crianças? meu Deus...

Hoje, sempre que vou dar sangue ou visitar alguém...dou uma volta e chego-me a quem está completamente só e de olhos postos na porta a ver se entra alguém. Tenhos histórias tão cabeludas que daria para um livro, daí não criticar "pais que não visitam filhos ou familiares e filhos que não visitam os pais ou familiares"!

Falamos mal de tudo e de todos...mas pelo menos vivemos em paz e se tivesse que passar tudo de novo não sei se aguentaria!

Obrigado Obervador por me teres feito relembrar este lado agri-doce da minha vida!

domingo, 27 de março de 2011


Rebobinando o passado, abri uma das gavetas mais dolorosas da minha vida: viver numa guerra civil. Passei coisas inimagináveis e sinceramente o que fazia para comer e dar de comer à minha filha, tudo servia...do capim à mandioca que nascia do nada...porque até as pequenas hortas eram pulverizadas pelas rajadas de metralhadoras. Tudo o que arranjava/arranjávamos era repartido pelos vizinhos...como dizia o brasileiro: acrescenta-se água no feijão!

Água havia nem que fosse da chuva. Nessa luta pela sobrevivência em que não ligamos nada ao matraquear do material bélico, viramos autómatos e não sei, diria talvez insensíveis a certos cenários onde se perde o medo anestesiado pelo silêncio. Não sei e ainda hoje não consigo entender a defesa que se ganha!

Só sei que tinha dinheiro na mão e nada, mas nada para comer versus comprar! Quando cheguei a Portugal olhava para as montras como um burro para um palácio e também não sei dizer a razão porque num curto espaço de tempo (2/3 anos) se perde a memória de bens alimentares que fizeram parte da minha vida.

Hoje deparo-me com um cenário inverso mas felizmente sem guerra, vivendo da minha magra reforma onde sempre houve e há prioridades fundamentais como a alimentação.

O que não acontece a muita gente cujas "prioridades" são bem diferentes das minhas, mas jamais critico.

Não entro na política nojenta que nos querem impingir e muito menos ouvir a aberração de telejornais que está a levar muita gente para o beco de depressões bem graves.

Sobrevivi a uma guerra e vou vencendo as batalhas das quais não posso fugir, com fé, esperança e sem me tirarem o sorriso do rosto, num trabalho interior que cada um deverá fazer o seu e esperar por melhores dias.

Sou assim e agora luto e ajudo a vencer a batalha do "medo e ansiedade", porque a minha neta mais velha vai ser operada no dia 15 ao angioma (remoção total por ser apenas cutâneo o que foi um alívio) que tem atrás da orelha. Não é urgente, e se houver casos urgentes com garotos mais novos, a dela será adiada por uns dias!

Acreditando no que acredito, será mesmo dia 15, sexta feira pelas 17horas e virá para casa na manhã de sábado. Vou buscar a mais nova à escola que dormirá aqui comigo e sábado lá estarei junto deles e livres da porra dos angiomas!!!!

Até lá irei buscar mais vezes as garotas, para que os pais possam compensar o dia D, e os avós servem para isso, não é? pois claro que sim!

Como dizia o meu falecido pai: minha filha, força aí no galheteiro que vai correr tudo bem!

Obrigado por teres lido o meu desabafo e "já de gaveta fechada" recebe o meu abraço sincero e perdoem-me se não estiver muito presente!

quinta-feira, 24 de março de 2011

Coisas que me tiram do sério!











Os nove países europeus que participam no jogo que se realiza na sexta-feira decidiram avançar com algumas alterações com o objectivo de "dar resposta às exigências dos apostadores, que desejam maiores valores de jackpot e mais hipóteses de ganhar prémios", refere uma informação da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

As mudanças são hoje publicadas em Diário da República, num decreto-lei que salienta, além do novo sorteio e prémios, uma nova distribuição das receitas dos jogos sociais (Euromilhões, Totobola, Totoloto).

Uma parte do dinheiro obtido com a venda das apostas destes jogos vai para o pagamento dos prémios e outras despesas dos jogos, sendo o restante distribuído pela Presidência do Conselho de Ministros, pelos ministérios da Administração Interna, do Trabalho e da Solidariedade Social, da Saúde, da Educação, e da Cultura, além da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. "

Desde o dia 1 de janeiro de 2011, o valor atribuído ao Ministério da Cultura aumentou para 3,5 por cento e os valores atribuídos às restantes entidades tiveram, em consequência, uma ligeira redução", refere o Diário da República. (SIC-LUSA)


Esta "estatística" do sorteio da semana passada foi retirada DAQUI

Receita ilíquida apostas € 154.383.372,00
Montante para prémios € 77.191.686,00
(1)

Previsão 1º Prémio c / Jackpot € 133.000.000,00
Nº de Bilhetes registados em Portugal 3.875.808
Nº de Combinações registadas em Portugal 9.420.498
Nº de Apostas registadas em Portugal 10.921.071

Uma parte? será metade da Receita ilíquida, precisamente o mesmo valor para prémios, foi para ORGANISMOS ESTATAIS FILHOS DA MÃE indicados na notícia, e neste caso foram só €77.191.686,00 que a juntar a tantos outros é muita fruta para tão "pouquinhos ladrões, ai...gastadores distraídos"!

Estarei enganada? Expliquem-me se puderem

segunda-feira, 21 de março de 2011

Política de Interesse



Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos que constituem o movimento político das nações.
A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse.
A política é uma arma, em todos os pontos revolta pelas vontades contraditórias; ali dominam as más paixões; ali luta-se pela avidez do ganho ou pelo gozo da vaidade; ali há a postergação dos princípios e o desprezo dos sentimentos; ali há a abdicação de tudo o que o homem tem na alma de nobre, de generoso, de grande, de racional e de justo; em volta daquela arena enxameiam os aventureiros inteligentes, os grandes vaidosos, os especuladores ásperos; há a tristeza e a miséria; dentro há a corrupção, o patrono, o privilégio. A refrega é dura; combate-se, atraiçoa-se, brada-se, foge-se, destrói-se, corrompe-se. Todos os desperdícios, todas as violências, todas as indignidades se entrechocam ali com dor e com raiva.
À escalada sobem todos os homens inteligentes, nervosos, ambiciosos (...) todos querem penetrar na arena, ambiciosos dos espectáculos cortesãos, ávidos de consideração e de dinheiro, insaciáveis dos gozos da vaidade.

Eça de Queiroz, in 'Distrito de Évora (1867)

fomos despejados...















Amigo, agora vamos nós...porque temos a ajuda dos
















Ai Eça, Eça... mudam as moscas e a














é a mesma!



(fotos Google)

quinta-feira, 17 de março de 2011

DESAFIO Nº. 10 - Duas frases que fazem parte de ti!














1ª.-Num aprendizado diário, tento escutar mais quem luta para progredir na vida a todos os níveis, do que quem sentado numa poltrona se lamenta constantemente sem fazer a ponta de um corno!

2ª.- Porque a amizade deve ser um bem sem cobrança de imposto de retorno, nunca fiz nem faço julgamentos prévios, sei escutar ajudando no que posso, sou uma porta aberta e sempre amiga e não ligo nenhuma quando se afastam, respeitando os silêncios de cada um!

domingo, 13 de março de 2011

Vamos sorrir - 3?

O sol deveria brilhar para todos e não apenas para alguns! Eis os quatro maiores mamões!













Porque me meteram na União Europeia se está cheia de buracos?













Que trabalheira que tive! Aqui jazem os poderosos enrascados políticos e compadrio que puseram Portugal à rasca! Para saber quem são, dirija-se ao local e faça "enter" sem gastar um cêntimo!

Por ser tão má ainda lhes pus uma flores"!


quinta-feira, 10 de março de 2011

Aos meus prezados autores

e donos dos "livros de bolso" de que tanto gosto, apresento não uma "moção de censura", mas um grande pedido de desculpas pelo atraso da leitura já que:

- na segunda-feira a minha neta mais velha foi fazer uma ressonância magnética com contraste ao angioma que tem atrás de uma orelha, que cresceu um bocadinho como ela cresceu também e muito. Fiquei com a mais pequena e disfarcei a minha ansiedade limpando de alto a baixo a casa deles com a ajuda da neta:), ir dar de comer aos patos num rio próximo e imaginem, visitar o que a gaiata tanto queria: uma igreja - a casa do menino Jesus.
Por ser pequeno não era removível...mas cresceu e para dentro? A preocupação de todos era grande se "aquela porra estava metido lá para dentro" e com consequências...enfim.
Finalmente respirámos todos de alívio, é mesmo superficial e para dentro não há nada e agora é de muito fácil remoção numa pequena cirurgia, o que ficará ao critério do médico depois de ver o exame.
Acordou da anestesia um pouco zangada e a barafustar que não sabia onde estava o balão que lhe deram para encher. Só depois é que percebeu que foi por ali o principio da anestesia.
Foi um dia de ginásio!

Resultado?

Terça não fiz nada e aninhada no sofá só vi desporto. Passei por aqui...mas a vontade foi quase zero.

Ontem, a Srª. minha filha igualmente taralhoca como a Srª. sua mãe, eu mesma, não se lembrou do convite que me foi endereçado pela escola - almoçar com as netas, porque não havia aulas. Só se lembrou já perto da hora do almoço e lá fui a correr! Almocei com elas e mais meia dúzia de garotos onde fui avó de todos.
Depois levei-as para casa, pelo caminho atestamos o porta-bagagens de lenha que estava numa pilha à beira da estrada e passamos a tarde a jogar à bola e basquete e sei lá mais o quê e só cheguei a casa às 21h.
Mais um dia de ginásio!

Hoje visitei quase nada, mas estou bastante cansada porque tive que levar os medicamentos à minha mãe.
Mais meio dia de ginásio!

Amanhã será novo dia e se acordar, com tempo e calma virei com mais gosto e vontade!

Inté!

terça-feira, 8 de março de 2011

Parabéns Naide Gomes e Francis Obikwelu













Os medalhados de Portugal nos Europeus de pista coberta que decorreram no último fim-de-semana em Paris regressaram esta segunda-feira a Lisboa, onde foram recebidos em clima de festa.

«É sempre bom ser recebidos desta forma, com este calor humano», disse Naide Gomes, que conquistou a medalha de prata no salto em comprimento, ficando a um escasso centímetro da vencedora.
«Muita gente diz que perdi o ouro, mas é importante referir que ganhei a medalha de prata.»

Já Obikwelu, confessou que não estava à espera de arrecadar o ouro nos 60 metros. «O objectivo era estar na final, mas foi com grande orgulho que venci. Foi espectacular.»

in A BOLA.PT - 19:15 - 07-03-2011

sábado, 5 de março de 2011

Nos teus brilhantes 81 anos...obrigado mãe!

A minha mãe escreveu e ainda escreve sobre as suas memórias.
No primeiro foi tudo sobre a sua infância. No segundo foi do namoro ao nascimento e infância dos cinco filhos e agora está no terceiro que não faço a mínima ideia sobre o que seja.

Transcrevo na íntegra uma parte de uma vinda a Portugal de que não me recordo rigorosamente nada, na aldeia de uns familiares. A partir do regresso, lembro-me perfeitamente:

(...) era uma terra pequena mas tinha gente rica com casas apalaçadas! Perto da Igreja que dava para o largo, o irmão da MR tinha uma taberna, tudo muito rústico! Conheci todos os primos e até fui madrinha de casamento de uma.
Foi lá que fui pela 1ª. vez a uma desfolhada, feita à noite, tão giro e preparamos as folhas do milho para o colchão da noiva.
Dias depois "surpresa total", descobri que estava grávida, meu Deus como fiquei! A minha tia só me perguntava o que eu tinha e eu nada dizia! Chorava às escondidas porque não estávamos nada à espera. Por fim contamos e todos deram-nos os parabéns, vinha o 4º.
(...) todos gostavam dos meus filhos, mas mais da Fatyly por ser tão irrequieta e atrevida e o irmão sempre atrás dela. Os dias foram passando e até comprei a minha "Sagrada Família", que hoje tem mais de cinquenta anos. Os garotos andavam felizes a correr tudo e a minha mais velha sempre agarrada às minhas saias, ao contrário do X e da Fatyly que não paravam um segundo.
As carroças carregadas de hortaliças, leite, pão, etc. iam parando ao som de uma cantilena deles para as pessoas comprarem o que quisessem. Pois é... lá ia o X e a Fatyly a correr e de tão curiosos faziam sempre o mesmo: espreitar para baixo dos machos, admirados com o que viam e eu fugia para dentro de casa a rir mas envergonhada com o sucedido. A tia X achava imensa graça à curiosidade dos dois marotos.
À mesa o Sr. Padre David (também meu primo) chegava a dar à Fatyly 2 tostões, para ela estar sossegada, pois nada lhe escapava e passava o tempo a pedir ao primo Luís que tirasse os óculos escuros para lhe ver os olhos. Ele estava cego e como não tirava, ela ia por detrás e puxava-lhos e por vezes até lhe escondia a bengala. Era uma risota, mas eu ralhava muito com ela.

Voltamos a Luanda num navio e como foi longa a viagem.

Todos se portaram lindamente mas a Fatyly até conquistou o Sr.Manuel que lhe dava o que ela mais gostava: um prato cheio de ovos mexidos...e por lhe acharem imensa graça, deixavam que ela andasse sempre com o colete de salvação!
(...)
A 23 de Março nasceu outro rapaz com 4,500kg, lindo e com olhos azuis, (o meu João que me deixou vinte e um anos depois. Falarei disso mais tarde).

Os irmãos ansiosos foram a correr ver o bebé, menos a minha Fatyly que só entrou no quarto dois dias depois. Não percebi o que se estava a passar, lá foi devagarinho ver o irmão que estava numa alcofinha...não disse nada, não se manifestou e eu sem saber o que fazer, puxei-a para junto de mim, ficou melhor...mas... seriam ciúmes?
A minha parteira disse que era normal e para não me preocupar, mas se fosse hoje tinha que ir a correr "com a menina" para um PSICÓLOGO!!!
Passou-lhe e depois só queria pegar no irmão e ajudar a dar banho! Um dia sem nos apercebermos levou-o para o seu carro de rolamentos e lá estava encantada a passear o irmão pelo quintal!

Tinha dois casais lindos e todos diferentes, mas a dupla X e Fatyly eram conhecidos de todos do nosso bairro.(...)

Palavras minhas:
Uns anos depois nasceu a minha irmã mais nova!