terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

QUADRAS POPULARES

 


 Hoje não venhas tarde

Dizes-me tu com carinho

Ou compras um relógio novo

Ou amanhã vai de carrinho.

 

Fui sair com o meu amor

E dei-lhe um beijo na testa

Mais abaixo me disse ela

Mais abaixo é uma festa.

 

As meninas de Odivelas

São umas puras donzelas

As mamas dessas meninas

Também foram como elas.

 

Quando vejo uma Madame

Na rua a se "promenar"

Digo logo "jevuzéme"

"Savêvu Francês parlar".

 

Tu na terra e eu no mar

Ambos nós damos valor

Tu cavas no duro chão

Eu no mar sou pescador.

  

O ribeiro não corria

Quando o teu lenço lavavas

Parou a ver se aprendia

As cantigas que cantavas.

 

Mal de amor, raro se perde

É como a nódoa da amora

Só com outra amora verde

A nódoa se vai embora.

 

Cautela, ninguém se gabe

De ter tudo o que lhe apraz

Quem não tem nada é que sabe

A falta que tudo faz.

 

Há três coisas na vida

A que um homem nunca foge

Ao amor de uma mulher

Ainda não bebi nada "hóje".

 

Subi ao quinto andar

E atirei-me do segundo

Só porque quis ir tomar ar

Antes de ir pró outro mundo.

 

Na sala de anatomia

Deu-se um parto interessante

Uma pulga pequenina

Deu à luz um "Alifante".

 

 

 Mulher é livro fechado,
Mas fechado para valer...
Nunca confessa o pecado,
Faz do pecado viver
 

 Teve sabor a pecado
O beijo que te roubei.
Foi um gesto malcriado,
Mas te confesso... gostei.

 

 

 Desfolhaste o malmequer
A perguntar s'eu te queria.
Fizeste mal, oh mulher,
O malmequer não sabia
.

sábado, 18 de fevereiro de 2023

Essa Palavra Margem - Ondjaki

 












quem primeiro domesticou a palavra margem foi Guimarães Rosa.
Depois foi invadido por marés de margens...

depois pode-se apontar
margem de rio
margem da página
margem do momento
[ou momento à margem]
margem-só
terceira margem
[do rio, das pessoas, do amor]
poeta à margem
poesia das margens
margem de gente
à margem da vida
vidas sem margem
ficas sem margem
na margem da vida
margem de vinda
margem de ida
margens de chegada
[com canoas, jangadas, embarcações]
margem adiada
margem odiada
margens dos cegos, dos gagos
a margem dos que estão
à margem dos que não estão
margem da liberdade
[de pisar o chão]
à margem da verdade
margem da lágrima
minha margem
na margem
do meu poema.
[a terceira margem da pessoa – é o outro...?]
Ondjaki
(poeta e escritor nasceu em 1977 em Luanda e é licenciado em sociologia)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

DIA DOS NAMORADOS!

 











Faz hoje 7 anos que a minha mãe deixou a sua casa e nunca mais voltou porque preferiu ficar num Lar onde estou quase sempre presente para ver o seu estado e falar com ela. Até pelo telefone sei como está.

Desejo a todos os casais e ou namorados, um dia feliz e que pensem que deverão fazer tudo em prol um do outro.


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Sempre NÃO!


 






Um cavaleiro, casado com uma dama nobre e formosa, teve de ir fazer uma longa jornada: receando acontecesse algum caso desagradável enquanto estivesse ausente, fez com que a mulher lhe prometesse que enquanto ele estivesse fora de casa diria a tudo: Não.
Assim pensava o cavaleiro que resguardaria o seu castelo do atrevimento dos pajens ou de qualquer aventureiro que por ali passasse. O cavaleiro já havia muito que se demorava na corte, e a mulher aborrecida na solidão do castelo não tinha outra distracção senão passar as tardes a olhar para longe, da torre do miradouro. Um dia passou um cavaleiro, todo galante, e cumprimentou a dama: ela fez-lhe a sua mesura. O cavaleiro viu-a tão formosa, que sentiu logo ali uma grande paixão, e disse:

- Senhora de toda a formosura! Consentis que descanse esta noite no vosso solar?
Ela respondeu:
-Não!
O cavaleiro ficou um pouco admirado da secura daquele não, e continuou:
- Pois quereis que seja comido dos lobos ao atravessar a serra?
Ela respondeu:
-Não.
Mais pasmado ficou o cavaleiro com aquela mudança, e insistiu:
- E quereis que vá cair nas mãos dos salteadores ao passar pela floresta?
Ela respondeu:
- Não.
Começou o cavaleiro a compreender que aquele Não seria talvez sermão encomendado, e virou as suas perguntas:
- Então fechais-me o vosso castelo?
Ela respondeu:
-Não.
- Recusais que pernoite aqui?
- Não.
Diante destas respostas o cavaleiro entrou no castelo e foi conversar com a dama e a tudo o que lhe dizia ela foi sempre respondendo
- Não.
Quando no fim do serão se despediam para se recolherem a suas câmaras, disse o cavaleiro:
- Consentis que eu fique longe de vós?
Ela respondeu:
- Não.
- E que me retire do vosso quarto?
- Não.

O cavaleiro partiu, e chegou à corte, onde estavam muitos fidalgos conversando ao braseiro, e contando as suas aventuras. Coube a vez ao que tinha chegado, e contou a história do Não; mas quando ia já a contar a modo como se metera na cama da castelã, o marido já sem ter mão em si, perguntou agoniado:
- Mas onde foi isso cavaleiro?
O outro percebeu a aflição do marido e continuou sereno:
- Ora quando ia eu a entrar para o quarto da dama, tropeço no tapete, sinto um grande solavanco, e acordo! Fiquei desesperado em interromper-se um sonho tão lindo.
O marido respirou aliviado, mas de todas as histórias foi aquela a mais estimada.

TEÓFILO BRAGA
chamava-se Joaquim Fernandes Braga, nasceu em 24 de Fevereiro de 1843, em Ponta Delgada, Açores e morreu com 81 anos, a 28 de Janeiro.