quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O Tempo Vale Muito Mais do que o Dinheiro

Perder tempo não é como gastar dinheiro. Se o tempo fosse dinheiro, o dinheiro seria tempo.
Não é. O tempo vale muito mais do que o dinheiro. Quando morremos, acaba-se o tempo que tivemos. Quando morremos, o que mais subsiste e insiste é a quantidade de coisas que continuam a existir, apesar de nós.
O nosso tempo de vida é a nossa única fortuna. Temos o tempo que temos. Depois de ter acabado o nosso tempo, não conseguimos comprar mais. Quando morreu o meu pai, foi-se com ele todo o tempo que ele tinha para passar connosco. As coisas dele ficaram para trás. Sobreviveram. Eram objectos. Alguns tinham valor por fazer lembrar o tempo que passaram com ele - a régua de arquitecto naval, os relógios - quando ele tinha tempo.
As pessoas dizem «time is money» para apressar quem trabalha. A única maneira de comprar tempo é de precisar de menos dinheiro para viver, para poder passar menos tempo a ganhá-lo. E ficar com mais tempo para trabalhar no que dá mais gosto e para ter o luxo indispensável de poder perder tempo, a fazer ninharias e a ser-se indolente.
A ideologia dominante de aproveitar bem o tempo impede-nos de perder esses tempos. Quando penso no meu pai, todas as minhas saudades são de momentos que perdi com ele. Uma noite, numa cabana no Canadá, confessou-me que o único filme de que gostava era «Um Peixe Chamado Wanda«. Todos os outros eram uma perda de tempo. Perdemos a noite inteira a falarmos e a rirmo-nos disso. Ainda hoje tem graça.

Miguel Esteves Cardoso, in 'Jornal Público (26 Dez 2011)

6 comentários:

  1. Há quem defenda que o tempo é um investimento na vida.

    Gostei do texto de MEC.

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  2. Pois, mas isso era no tempo das vacas gordas, quando o tempo era dinheiro:)
    Beijocas

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  3. Gosto sempre dos textos do MEC , flaa com o coraçao nas maos
    kis :=)

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  4. Observador
    Também gostei e há tantas formas de investir no tempo.

    Beijos

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  5. Wind
    O texto é de 2011 e as vacas já andavam loucas...e esse adjectivo de "vacas gordas" é o que não falta na clássica política de há anos!

    Beijos

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