quarta-feira, 23 de outubro de 2013

GRATIDÃO E SAUDADE

De candidos sonhos, de luz, e de flores,
Cercada a existencia começa a sorrir;
Alegre o presente nos falla de amores,
De amores nos falla brilhante o porvir!

Depois no horisonte sereno, e risonho,
Carregam-se as sombras, perturba-se a luz,
Esvae-se a ventura veloz como um sonho,
Que apenas instantes na vida reluz!

Assim penetrando no mundo das artes,
Ao tímido lume de frouxo clarão,
Olhava, e só via por todas as partes,
A meiga esperança sorrindo em botão!

De lyrios e rosas grinalda fragrante,
Cuidei mais ainda: cuidei vêl-a ahi;
Nos braços a aperto, convulsa, anhelante,
Aos labios a levo, na fronte a cingi!

Foi breve este sonho de amor, e de encanto;
Acordo, e procuro debalde uma flor;
Inundam-se os olhos de angustia e de pranto,
Ao ver que só restam espinhos e dor!

Só restam espinhos das pallidas rosas,
A quem pobre artista não ousa pedir
Os loiros frangrantes, as palmas viçosas,
Que a fronte de genio só devem cingir!

Só restam espinhos? ai, não! Se a ventura,
Não quiz que durasse tão meiga illusão,
Em paga deixou-me no peito a doçura.
De terna, suave, leal gratidão!

Que a voz do mais fundo, mais intimo d'alma,
Sincera tributa nest'hora o dever!
Embora outras palmas morressem,—a palma
De gratas memorias não póde morrer!

Desfeitos os sonhos, fanadas as flores,
Quebrado o encanto da pura illusão,
Que resta ao artista?—espinhos e dores,
Saudades! mais nada no seu coração!

Saudades da gloria, da luz, da ventura,
Dos magicos sonhos, presente dos ceos,
Saudades que attestam a funda amargura,
Que sente ao dizer-vos agora um adeus!

Bulhão Pato - 1853.

Raimundo António de Bulhão Pato (Bilbau, 3 de Março de 1828 — Monte da Caparica, 24 de Agosto de 1912), conhecido como Bulhão Pato, foi um poeta, ensaísta e memorialista português, sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa. As suas Memórias, escritas em tom íntimo e nostálgico, são interessantes pelas informações biográficas e históricas que fornecem, retratando o ambiente intelectual português da última metade do século XIX.- Wikipédia

10 comentários:

  1. É impressão minha ou falta acentuação em algumas palavras? É mesmo assim?

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    1. É como se escrevia em 1853:) e não é só falta de acentuação...repara como se escrevia algumas palavras:)

      Nos meus tempos de escola estudei Bulhão Pato e outros e decorar a "escrita" de alguns...xiiii era por demais:)

      Abraço

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  2. Não gosto muito deste tipo de poemas.
    Quando vou a meio, já não me lembro do final:)
    Beijocas

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    1. Sinceramente são poucos os poemas que gosto e este é um deles, porque a maioria são de facto enormes e perdemo-nos loll

      Mas já não digo isso quando às ameijoas à Bulhão Pato hehehehehehehe

      Abraço

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    2. Queria escrever já não me lembro do princípio. lololol
      Beijocas

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  3. Amiga
    Desculpa nao podres comentar no meu blogue, experimentei a plataforma Google+ mas voltei atrás, só que, tenho de ficar um mês até voltar ao blogger. castigo? certamente, para eu não andar a mexer no que tá quieto
    kis .=(
    aceita as minha desculpas...

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    1. Compreendo e agora já compreendi, mas também não quero inscrever-me nessas plataformas e já sabes que te leio com imenso prazer.

      Abraço

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  4. Já marchavam umas amêijoas :))))
    BFDS (a explicação está lá no blogue)

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    1. Ó se marchavam:):):):)

      Com fim de semana para ti e todos os teus e daqui a nada vou ler o que dizes.

      Abraço

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