A minha mãe escreveu e ainda escreve sobre as suas memórias.
No primeiro foi tudo sobre a sua infância. No segundo foi do namoro ao nascimento e infância dos cinco filhos e agora está no terceiro que não faço a mínima ideia sobre o que seja.
Transcrevo na íntegra uma parte de uma vinda a Portugal de que não me recordo rigorosamente nada, na aldeia de uns familiares. A partir do regresso, lembro-me perfeitamente:
(...) era uma terra pequena mas tinha gente rica com casas apalaçadas! Perto da Igreja que dava para o largo, o irmão da MR tinha uma taberna, tudo muito rústico! Conheci todos os primos e até fui madrinha de casamento de uma.
Foi lá que fui pela 1ª. vez a uma desfolhada, feita à noite, tão giro e preparamos as folhas do milho para o colchão da noiva.
Dias depois "surpresa total", descobri que estava grávida, meu Deus como fiquei! A minha tia só me perguntava o que eu tinha e eu nada dizia! Chorava às escondidas porque não estávamos nada à espera. Por fim contamos e todos deram-nos os parabéns, vinha o 4º.
(...) todos gostavam dos meus filhos, mas mais da Fatyly por ser tão irrequieta e atrevida e o irmão sempre atrás dela. Os dias foram passando e até comprei a minha "Sagrada Família", que hoje tem mais de cinquenta anos. Os garotos andavam felizes a correr tudo e a minha mais velha sempre agarrada às minhas saias, ao contrário do X e da Fatyly que não paravam um segundo.
As carroças carregadas de hortaliças, leite, pão, etc. iam parando ao som de uma cantilena deles para as pessoas comprarem o que quisessem. Pois é... lá ia o X e a Fatyly a correr e de tão curiosos faziam sempre o mesmo: espreitar para baixo dos machos, admirados com o que viam e eu fugia para dentro de casa a rir mas envergonhada com o sucedido. A tia X achava imensa graça à curiosidade dos dois marotos.
À mesa o Sr. Padre David (também meu primo) chegava a dar à Fatyly 2 tostões, para ela estar sossegada, pois nada lhe escapava e passava o tempo a pedir ao primo Luís que tirasse os óculos escuros para lhe ver os olhos. Ele estava cego e como não tirava, ela ia por detrás e puxava-lhos e por vezes até lhe escondia a bengala. Era uma risota, mas eu ralhava muito com ela.
Voltamos a Luanda num navio e como foi longa a viagem.
Todos se portaram lindamente mas a Fatyly até conquistou o Sr.Manuel que lhe dava o que ela mais gostava: um prato cheio de ovos mexidos...e por lhe acharem imensa graça, deixavam que ela andasse sempre com o colete de salvação!
(...)
A 23 de Março nasceu outro rapaz com 4,500kg, lindo e com olhos azuis, (o meu João que me deixou vinte e um anos depois. Falarei disso mais tarde).
Os irmãos ansiosos foram a correr ver o bebé, menos a minha Fatyly que só entrou no quarto dois dias depois. Não percebi o que se estava a passar, lá foi devagarinho ver o irmão que estava numa alcofinha...não disse nada, não se manifestou e eu sem saber o que fazer, puxei-a para junto de mim, ficou melhor...mas... seriam ciúmes?
A minha parteira disse que era normal e para não me preocupar, mas se fosse hoje tinha que ir a correr "com a menina" para um PSICÓLOGO!!!
Passou-lhe e depois só queria pegar no irmão e ajudar a dar banho! Um dia sem nos apercebermos levou-o para o seu carro de rolamentos e lá estava encantada a passear o irmão pelo quintal!
Tinha dois casais lindos e todos diferentes, mas a dupla X e Fatyly eram conhecidos de todos do nosso bairro.(...)
Palavras minhas:
Uns anos depois nasceu a minha irmã mais nova!
Gargalhadas, eras fresca, eras! lololol
ResponderEliminarBeijocas
Que grande "encomenda" tu eras, Fatyly!!!
ResponderEliminar:)
Wind
ResponderEliminarolha que quando li o livro eu nem queria acreditar porque não me recordo da vinda a Portugal e faço ideia o que na aldeia não devem ter falado sobre mim. Perguntei-lhe e ela diz que não, que de facto fazia coisas que não lembravam ao diabo, mas o meu sorriso e gargalhada fazia com que ninguém ralhasse só ela e claro o meu pai:)
Beijocas e obrigado
Observador
ResponderEliminarAi tu nem me fales e há muitas mais, encomenda? é pouco lolll
Beijocas e obrigado
Tás de parabéns...
ResponderEliminarA minha vai fazer 87...
Somos uns felizardos!
Parabéns para tua maezinha. 81 anos! Que ela continue firme e forte!
ResponderEliminarQue beleza tua mãe escrever as memórias. Quantas e quão preciosas lembranças!
E como eras sapeca Fatyly! Mas olha, segues conquistando as pessoas com tua imensa simpatia. Continuas a ser uma querida sapeca.
Mfc
ResponderEliminarSomos de facto e a minha fará 82 em Outubro.
Beijocas e obrigado
Odele
ResponderEliminarFelizmente continua bem e autónoma e como disse ao Mfc fará 82 anos em Outubro, mas desde o ano passado que resolveu escrever nos chamados "livros brancos" as suas memórias. Os originais, ou seja com a sua própria letra são para a minha filha mais velha e fez fotocópias encardenadas para quem quis ficar com uma cópia.
De facto sempre fui sapeca e felizmente que fui, sou e continuarei a ser:):):):)
Beijocas e obrigado
Bem bonito...Sim senhora.
ResponderEliminarDevias ser a melhor prenda da região.
Eu também não fui lá muito bom, e nesta altura do carnaval, fazia as maoires patifarias a todos aqueles que se mascaravam.
Recordar a mãe!!! Que lindo, pois a minha se fosse viva teria hoje 111 anos. O meu pai faria 115.
Grato pela pasagem em meu espaço. Feliz carnacal. Para mim , é uma festa horrorosa, detesto pura e simplesmente.
eras bem conhecida pelas tuas diabruras.
ResponderEliminardois tostões? meu deus há que tempos
kis :=)
Que bons frutos sua mãe teve e do que orgulhar-se!! Toda a sua energia era apenas uma questão de ter bastante saúde! Que Deus a mantenha!! Sua mãe deve mesmo continuar a escrever - escreve muito bem! Que bom vocês terem essas memórias registradas! Beijus,
ResponderEliminarEspaço do João
ResponderEliminare que rica prenda :))))) e a minha mãe, felizmente ainda autónoma e com uma cabeça melhor do que a minha, entretem-se com o que mais gosta: escrever, ler e bordar:)
Também detesto o carnaval, excepto ver os garotos tão felizes nas suas vestes mas a passearem, e algumas festas culturais das nossas aldeias, longe bem longe de corsos, de raparigas a tremelicarem em vez de dançarem e de outras coisas mais:)
Beijocas e obrigado
Avogi
ResponderEliminarera mais conhecida que a farinha trinte e três:):):) e como disse no início não me recordo dessa passagem por Portugal e dos dois tostões:)
Devia ter os meus 4 anitos, mas já me recordo do regresso à minha terra e estivémos cá, segundo ela...um mês e tal!
Beijocas e obrigado
Luma Rosa
ResponderEliminarSubscrevo totalmente o teu comentário e a minha mãe é muito mãe galinha preocupada com os seus pintos e com o enorme sofrimento sempre presente com a perda do meu irmão João.
Felizmente é autónoma, está na sua casinha onde faz tudo, saí comigo e levo-lhe as compras e ocupa-se muito com a ler, escrever e bordar:)
Beijocas e obrigado
Os meus parabéns a tua mãe, com votos de muita saúde.
ResponderEliminarQuanto a ti, eras fresca, eras!
Fazes-me lembrar alguém...
Um abraço e bom domingo.
Kao
ResponderEliminarjá lhe dei e de facto eu era fresquissima:):):):)
Beijocas e obrigado