De candidos sonhos, de luz, e de flores,
Cercada a existencia começa a sorrir;
Alegre o presente nos falla de amores,
De amores nos falla brilhante o porvir!
Depois no horisonte sereno, e risonho,
Carregam-se as sombras, perturba-se a luz,
Esvae-se a ventura veloz como um sonho,
Que apenas instantes na vida reluz!
Assim penetrando no mundo das artes,
Ao tímido lume de frouxo clarão,
Olhava, e só via por todas as partes,
A meiga esperança sorrindo em botão!
De lyrios e rosas grinalda fragrante,
Cuidei mais ainda: cuidei vêl-a ahi;
Nos braços a aperto, convulsa, anhelante,
Aos labios a levo, na fronte a cingi!
Foi breve este sonho de amor, e de encanto;
Acordo, e procuro debalde uma flor;
Inundam-se os olhos de angustia e de pranto,
Ao ver que só restam espinhos e dor!
Só restam espinhos das pallidas rosas,
A quem pobre artista não ousa pedir
Os loiros frangrantes, as palmas viçosas,
Que a fronte de genio só devem cingir!
Só restam espinhos? ai, não! Se a ventura,
Não quiz que durasse tão meiga illusão,
Em paga deixou-me no peito a doçura.
De terna, suave, leal gratidão!
Que a voz do mais fundo, mais intimo d'alma,
Sincera tributa nest'hora o dever!
Embora outras palmas morressem,—a palma
De gratas memorias não póde morrer!
Desfeitos os sonhos, fanadas as flores,
Quebrado o encanto da pura illusão,
Que resta ao artista?—espinhos e dores,
Saudades! mais nada no seu coração!
Saudades da gloria, da luz, da ventura,
Dos magicos sonhos, presente dos ceos,
Saudades que attestam a funda amargura,
Que sente ao dizer-vos agora um adeus!
Cercada a existencia começa a sorrir;
Alegre o presente nos falla de amores,
De amores nos falla brilhante o porvir!
Depois no horisonte sereno, e risonho,
Carregam-se as sombras, perturba-se a luz,
Esvae-se a ventura veloz como um sonho,
Que apenas instantes na vida reluz!
Assim penetrando no mundo das artes,
Ao tímido lume de frouxo clarão,
Olhava, e só via por todas as partes,
A meiga esperança sorrindo em botão!
De lyrios e rosas grinalda fragrante,
Cuidei mais ainda: cuidei vêl-a ahi;
Nos braços a aperto, convulsa, anhelante,
Aos labios a levo, na fronte a cingi!
Foi breve este sonho de amor, e de encanto;
Acordo, e procuro debalde uma flor;
Inundam-se os olhos de angustia e de pranto,
Ao ver que só restam espinhos e dor!
Só restam espinhos das pallidas rosas,
A quem pobre artista não ousa pedir
Os loiros frangrantes, as palmas viçosas,
Que a fronte de genio só devem cingir!
Só restam espinhos? ai, não! Se a ventura,
Não quiz que durasse tão meiga illusão,
Em paga deixou-me no peito a doçura.
De terna, suave, leal gratidão!
Que a voz do mais fundo, mais intimo d'alma,
Sincera tributa nest'hora o dever!
Embora outras palmas morressem,—a palma
De gratas memorias não póde morrer!
Desfeitos os sonhos, fanadas as flores,
Quebrado o encanto da pura illusão,
Que resta ao artista?—espinhos e dores,
Saudades! mais nada no seu coração!
Saudades da gloria, da luz, da ventura,
Dos magicos sonhos, presente dos ceos,
Saudades que attestam a funda amargura,
Que sente ao dizer-vos agora um adeus!
Bulhão Pato - 1853.
Raimundo António de Bulhão Pato (Bilbau, 3 de Março de 1828 — Monte da Caparica, 24 de Agosto de 1912), conhecido como Bulhão Pato, foi um poeta, ensaísta e memorialista português, sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa. As suas Memórias, escritas em tom íntimo e nostálgico, são interessantes pelas informações biográficas e históricas que fornecem, retratando o ambiente intelectual português da última metade do século XIX.- Wikipédia
É impressão minha ou falta acentuação em algumas palavras? É mesmo assim?
ResponderEliminarÉ como se escrevia em 1853:) e não é só falta de acentuação...repara como se escrevia algumas palavras:)
EliminarNos meus tempos de escola estudei Bulhão Pato e outros e decorar a "escrita" de alguns...xiiii era por demais:)
Abraço
Não gosto muito deste tipo de poemas.
ResponderEliminarQuando vou a meio, já não me lembro do final:)
Beijocas
Sinceramente são poucos os poemas que gosto e este é um deles, porque a maioria são de facto enormes e perdemo-nos loll
EliminarMas já não digo isso quando às ameijoas à Bulhão Pato hehehehehehehe
Abraço
Queria escrever já não me lembro do princípio. lololol
EliminarBeijocas
Eu entendi:):):):)
EliminarBeijocas
Amiga
ResponderEliminarDesculpa nao podres comentar no meu blogue, experimentei a plataforma Google+ mas voltei atrás, só que, tenho de ficar um mês até voltar ao blogger. castigo? certamente, para eu não andar a mexer no que tá quieto
kis .=(
aceita as minha desculpas...
Compreendo e agora já compreendi, mas também não quero inscrever-me nessas plataformas e já sabes que te leio com imenso prazer.
EliminarAbraço
Já marchavam umas amêijoas :))))
ResponderEliminarBFDS (a explicação está lá no blogue)
Ó se marchavam:):):):)
EliminarCom fim de semana para ti e todos os teus e daqui a nada vou ler o que dizes.
Abraço