sábado, 21 de janeiro de 2017

Sempre vigilante com a minha mãe

Quando a minha mãe ainda tinha poucos meses de estadia na sua nova casa, entrou pânico com as formigas. Porque lhe mordiam de noite, por isto e mais aquilo. Com imensa calma e resmas de paciência lembrei-lhe das que haviam na sua casa em Angola, em que eram o dobro daquelas minorcas e que não estava nada mordida. Também cá teve formigas na sua casa. Ripostou com azedume que na casa dela nunca teve formigas. Não lhe relembrei mais nada porque compreendia bem a situação.

Em Dezembro foi para o quarto individual onde pode fazer o que quiser e ordenar as suas coisas como entender. Já está quase a fazer um ano que tudo aconteceu e a coisa está a correr melhor, embora seja uma sombra do que era. Sempre ocupada com coisas que gosta. Arranja a roupa de quem lhe pede, como lhe dão resmas de lãs faz cachecóis para uma instituição dos sem-abrigo, palavras cruzadas e agora retomou a leitura. Também dobra guardanapos de papel e com duas colegas a quem ensinou. Também já vê televisão e quando quer ver um programa em especial vai para o seu quarto. A sua locomoção continua muito comprometida mas já nada mais se pode fazer. Meia dúzia de passos...o que já é muito bom e que lhe dá mais paz de espírito.

Na quinta feira fui lá, sempre fora das horas da visita para controlar e sem aviso prévio. Estava na sala a fazer tricô e mal me viu a entrar com o carro, levantou-se e foi-me esperar à porta de entrada. Fomos para o seu quarto. Falamos e a minha preocupação era se passava frio. Disse que não, que tinham posto mais uma manta mas que ela não quis porque sufocava:)) têm aquecimento central que liga e desliga-se automaticamente.

Espiei tudo incluindo na casa de banho. Pediu-me uma coisa da mesa de cabeceira pois queria mostrar-me. Voltou ao seu registo. Tudo embrulhado em sacos de plástico e com elásticos. Valha-me Deus...mas nada disse.

No chão tem uma caixa plástica cheia de lãs e por cima uma mais pequena com os doces que lhe dão e as bolachas que por vezes lhe levo. Mãe, vou roubar-lhe um chocolate (não me apetecia mas era para ver se tinha falta de alguma coisa). Caixas e caixinhas, sacos e saquinhos e elásticos.

A rir disse-me, sabes filha que ontem limpei essa caixa, não é que as formigas atacaram? Ai sim? Olha as espertas. Pois são, mas agora diz-me como é que elas entram na caixa grande, na caixinha pequena envolta em plástico? Gargalhei e respondi-lhe que sabia. Sabes? então diz-me lá.

Porque senhora minha mãe, as formigas reuniram-se e alertaram que existe uma lady muito chata que as quer enganar com os rococós dos sacos e elásticos, tocaram a rebate e veja lá se não conseguiram. São umas vencedoras:)))

Há muito que não a via a rir como riu e só disse...és mesmo reguila só tu me fazias rir:)

Hoje vou busca-la para um lanche ajantarado em casa da minha filha mais velha onde irei curtir também os netos mais novos.

Bom Sábado para ti que tiveste a pachorra de ler.


16 comentários:

  1. Uma bênção ler-te, uma alegria imensa saber que há, pelo menos UMA filha que ama, respeita, cuida para que nada falte à sua Mãe velhinha.
    E brinca, e é cúmplice, e alinha em pequenos (?!) nada que fazem parte do seu dia a dia.
    A estória da esperteza das formigas fez-me rir, enterneceu-me, muito. Só quem ama, de forma sentida, tem essa capacidade.
    Um óptimo dia para todas: Mãe, Avó, netas, família exemplo.
    Que elas, netas, aprendam, "bebam" desse amor incondicional que é o da avó em relação à bisavó.
    Beijinho para todas/os.

    P.S. Pachorra? E o prazer, a alegria que dá ler estes belíssimos testemunhos?!:)

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    1. Obrigado GL e digo-te que continuarei atenta a tudo que a rodeia. A filha que está mais perto bem que podia fazer muito mais mas comigo enveredou pelo silêncio porque sabe bem que no dia em que me telefonar ouvirá das boas. Fala com a mãe uma vez por semana e vai lá uma vez por mês porque moram longe ou seja a 20 kms. Os outros que estão no norte telefonam diversas vezes e têm vindo cá uma vez por mês ou de dois em dois meses, porque estes sim moram longe e vir e ir são perto de 600kms. Quando não conseguem falar com a mãe têm o cuidado de me telefonar e começam logo...Comandante GPS?:))))

      Ontem correu tudo bem graças a Deus, no meio da confusão habitual e saudável onde até os cães ficam meio perdidos:))

      Levei-a ao lar por volta das oito e tal. Mal parei o carro veio a funcionária com uma pequena manta para a cobrir, um gesto que apreciei. Logo a seguir entrou outra utente à qual fizeram o mesmo. Deixei-a no quarto e vim embora com um frio do caneco.

      Hoje já falei com ela para saber se a "misturada" não lhe tinha feito mal. Está tudo dentro dos eixos:)

      Beijocas

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  2. Não tenho muito para dizer porque tu não me permites.
    Ao fazeres o que fazes e como fazes, demonstras o amor de filha que és. Haverá melhor que isso? Não, com toda a certeza!

    Um dia, quando partires, terás um lugar especial à tua espera.
    És mulher, és mâe, és avó, tudo com valor acrescentado. E assim, vale a pena.
    Bem hajas e nunca te arrependas de ser como és.

    Beijoca, bom sábado.

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    1. Obrigado Observador e claro que sim não faço mais do que a minha obrigação mas sobretudo por ela ter sido e ainda é uma excelente mãe.

      Na minha partida quero apenas que batam latas, cantem e dancem e me reduzam a cinzas. Depois direi afinal qual é o lugar especial:))))

      Sou e espero continuar a ser como sou e refilona quando for preciso:)

      Beijocas

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  3. Ahahahah, este seu texto é delicioso, só lhe digo, Fatyly. As formigas como figurantes, a sua mãe como protagonista e a Fatyly com a batuta não mão, fazem desta história um traçado cheio de vida ainda a palpitar. Eu cá gostei muito.

    Bom fim-de-semana, Fatyly :)

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    1. Obrigado Maria Madeira e quase sempre levo as coisas desta forma:)) Quando lhe perguntaram pelas formigas ela respondeu que já tinha feito as pazes com as formigas e que mudou de sitio a dita caixa com as suas guloseimas hehehe

      Fiz dois tabuleiros de canelones para poupar um pouco as filhas e genros não é que por volta das 18h já todos queriam jantar?:))) Volta e meia vinham os netos, avó ainda não está na hora? Não ainda estão a aquecer e esticamos até às 19h e digo-te que comeram bem e só sobrou um cadinho que trouxe para o meu almoço de hoje.

      Foi uma tarde de grande barafunda mas todos bem dispostos:))))

      Beijocas

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  4. Gosto sempre de te ler. Nem sei que escrever amiga.
    Tu és assim:)
    Beijocas

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    1. Obrigado Wind e tu já me conheces bem há tantos anos:) Por vezes salta-me a tampa e aí vai disto:))))

      Beijocas

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  5. Sempre em modo de SOS - mãe, filhas, netos... - com as algibeiras repletas de afectos.
    És o máximo, Fatyly!

    Um beijinho :)

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    1. Obrigado AC e a propósito de afectos tivemos todos uma longa conversa porque a minha mãe quando fala dos filhos das suas colegas bota sempre um apelido: mimosos. Pois são mimosos porque dão muitos beijos, abraços etc e tal, o que não é de todo o meu jeito. Claro que lhe dou beijos e um forte abraço quando entro e saio. Não gosto de cobrar beijos aos netos e a ninguém.

      Às tantas entram os netos na sala para virem tirar algo da mesa e a minha mãe fez-lhes uma pergunta: Oram digam lá se não gostam de dar e receber beijos à vossa avó? Reuniram-se os quatro. lá cochicharam e o porta-voz foi o meu rapaz: Bibó nós gostamos muito da avó porque ela quando nos vê pergunta logo: querem dar um beijo ou um abraço ou não vos apetece? É que por vezes não nos apetece mesmo e ela não nos agarra e nunca fica zangada por não darmos:)))) e isso é muita fixe:))) A Bibó assim que entra diz logo: venham cá dar-me um beijo...e a gente vai para não ficar triste. Mas não gostam? Os quatro em coro e com uma cara que só visto...claro que gostamos de si Bibó e muito, mas não é isso e correram para o quintal:))

      Gargalhada geral:)) e até ela riu:)

      Beijocas



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  6. Gostei...e mais não digo!

    Bom resto de domingo e uma excelente semana.

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    1. Obrigado KK e não precisas dizer mais nada:)

      Retribuo os votos:)

      Beijocas

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  7. Que a sua mãe continue a sorrir por muitos e bons anos.
    Beijocas, boa semana

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    1. Obrigado Pedro e tudo farei para que sorria até quando Deus quiser!

      Beijocas

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  8. Sabes, assusta-me a velhice dos meus pais. Como qualquer coisa que há-de vir, e que por ser desconhecida me enche de terrores.
    E ao mesmo tempo sei... Que vamos lidando com o que a vida nos dá. E que na maioria das vezes as coisas até nem correm mal.
    Queria-os assim para sempre. A envelhecer sim, mas com harmonia, com bem-estar, com a cabeça no lugar.
    Mas o corpo irá trair-nos a todos, mais cedo ou mais tarde. Alguma coisa vai falir.
    Espero nessa altura não perder a capacidade de me rir .
    Bem hajas Fatyly

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    1. Obrigado Boop.

      Pensei tantas vezes e digo-te que não esperava, e depois nem tempo tive de parar a pensar no que referes, pois foi um turbilhão bem grande. Em tudo tiro o lado positivo e nada acontece por acaso. Acredito em Deus, não sou praticante das missas etc e tal, mas acredito e todos os finais de cada dia dou-lhe graças por tudo e sobretudo pela força que me dá. O lado positivo: ela está muito melhor onde está, tem seis anos pela frente para não depender dos filhos e a sua casa foi vendida com ela viva evitando problemas com um elemento familiar. O meu pai partiu em dez minutos e foi como uma bomba que rebentou em quem ficou. Uma vez mais fui eu a primeira a socorrer...e aconteceu sem prevermos nada.

      Portanto vou vivendo um dia de cada vez, enfrentando e aceitando tudo conforme posso...mas todos teremos um fim...é a vida e "quem não vai novo de velho não escapa":)

      Portanto este é o meu lema de vida, faço e dou-me a todos - familiares e amigos- enquanto seres vivos e quando partem fico em paz e não faço o dito culto aos mortos porque ficam vivos no meu coração.

      Beijocas

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