O QUE ESTÁ EM CAUSA?
"Muito provavelmente influenciados pelas agências de notícias norte-americanas, vários órgãos de comunicação social de todo o mundo anunciaram que tinha terminado 'a maior ponte aérea da história', que retirou 120 mil pessoas de Cabul (…)", começa por referir o texto publicado numa conta do Facebook, sob o título "Ignorância". No mesmo post, o autor lamenta o desconhecimento sobre a história de Portugal, já que a ponte aérea entre Luanda e Lisboa, em 1975, "retirou 300 mil pessoas de Angola", citando como fonte documental o site da RTP Ensina.
Saliente-se que foi o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o primeiro a comparar este tipo de operações, quando a 20 de agosto afirmou, em conferência de imprensa na sua residência oficial, que a ponte aérea que então decorria era "uma das maiores e mais difíceis de sempre".(...)
CONTINUAR A LER NO:) POLÍGRAFO
:.........................................................................................................................................
Quando vi as horrendas imagens televisivas fui direitinha à gaveta das minhas memórias tão duras pelas quais passei. Eis uma delas que é relatada no artigo que vos deixo em cima.
Depois de dois dias e duas noites com a minha filha mais velha com seis meses a aguardar pelo embarque com uma pequena mala com meia dúzia de roupa para mim e cheia de coisas da minha bebé não me lembro, melhor não quero relatar o que senti e vi porque estávamos anestesiados e opacos pela imensa dor. Tive por companhia apenas por meia hora um amigo, que nem sei como conseguiu entrar que me entregou 2 latas de leite PELARGOM para a minha filha. Também recordo que o comandante do mesmo avião era colega do meu pai.
Recordo também que saí da minha terra - Luanda com uma temperatura de 30 graus e aterrei na Portela à noite com dois graus e chovia muito por ser inverno. Ajudas: Cruz Vermelha? -zero. Cáritas? zero. Sei só que duas freiras vestiram a minha filha para ficar quentinha e deram-lhe um biberon de leite que finalmente adormeceu. Deram-me um kispo que nem sabia como o vestir.
Segui e fui ter com um casal amigo que me levou naquela noite a Abrantes onde já estavam a minha irmã e cunhado.
Um mês depois rumei ao Brasil onde onde estava o pai delas.
Fecho a gaveta e não digo mais nada...apenas que a FOME E O MEDO nem ter cor, raça ou credo!!!!
Dizer o quê depois de lêr o teu testemunho vivido na primeira pessoa?! Não, por mais que digamos imaginar não imaginamos coisa nenhuma porque não é possível.
ResponderEliminarSei apenas uma coisa: a raiva, a revolta, a dor que sinto quando vejo os refugiados, velhos ou novos, eles e as suas crianças no meio do nada, sem protecção, sem ajuda, sem SOLIDARIEDADE, aí, Amiga, eu que até sou crente, interrogo-me onde está Deus.
Desculpa, agora sou eu que fico por aqui. As minhas lágrimas envergonham-me quando comparadas com as tuas, mas não consigo continuar.
Um grande, grande abraço, Amiga que muito admiro e prezo.
Nunca me apelidaram de retornada e enquanto estive no Brasil quase três anos fui vendo na televisão da vizinha porque eu não tinha, as notícias em Portugal e o que muitos fizeram de mal. Poucos, sim foram poucos no mar de gente que veio e que os condenei porque jamais recebi. Essa vizinha dizia sempre "coitados e coitada de si embora esteja estampado no seu rosto uma dor infinita é capaz de fazer de tudo para sobreviver".
EliminarQuando cheguei a Portugal não beneficiei de qualquer subsídio, apenas beneficiei do SNS a operação que a minha filha foi submetida. Fiz-me à vida. Também sei que foi esse mar de gente que levantou a economia do país.
Sabes GL chegou a um ponto que as lágrimas secam e ainda hoje raramente o faço e quando acontece as mesmas parecem uma cachoeira e silenciosas, sem gritos ou gemidos. Caem apenas!!!
Já passou amiga mas as verdades devem ser ditas e foi sempre muito bem recebida pelos "portugueses da metrópole":)))
Beijocas e um bom dia
Já passou, como dizes querida Fatyly. Que as "cicatrizes" que guardarás para sempre sejam o consolo que adoça a vida dos que passaram martírios mas que conseguiram ultrapassar e sair vencedores.
EliminarUm grande, grande beijinho, Amiga.
Sim já se vão esbatendo com o tempo e passei a viver em pleno um dia de cada vez!
EliminarBeijos amiga e obrigada
Recordações demasiados dolorosas e íntimas para serem comentadas como quem comenta algo sem importância.
ResponderEliminarDeixo-te um abraço fraterno, amigo e solidário, Faty.
Boa semana.
...até escrevi 'demasiado' no plural...desculpa, fiquei um pouco atordoada.
EliminarBeijinhos.
Não faz mal mas de facto esta dor não é só minha permanece em muitos corações.
EliminarAo ver quem foge de guerras e atrocidades custa-me ouvir o que se ouve muitas vezes. No meio claro que existem infiltrados e fazem das suas mas por haver uma árvore podre não se queime a floresta.
Custa-me abrir essa gaveta da minha memória embora muita coisa já se esfumou no tempo e não consigo recordar. Acho que o meu PC cerebral de vez em quando faz uma limpeza:))))
Beijocas e um bom dia
Infelizmente esses relatos sucedem-se.
ResponderEliminarE esse tormento afectou e afecta muita gente.
Não imagino, não posso imaginar, tamanho sofrimento e dor.
Beijos, boa semana
Infelizmente é verdade o que dizes mas não deixei que fosse um tormento mas quando relato é voltar a uma ferida que jamais se curará. Sabes Pedro já li muita coisa sobre os retornados e há um livro, que numa simplicidade relata exatamente essa evacuação.
Eliminar"OS RETORNADOS DE JÚLIO MAGALHÃES".
Depois dei-o à minha filha que também o leu. Há pouco tempo a minha neta mais velha (18 anos) quando acabou de o ler(eu nem sabia) e numa ida lá abraçou-me e só disse "Avó agora percebo porque és tão prática/solidaria/amiga/vives com tão pouco e andas sempre a sorrir". Elá linda de onde vem esse elogio? Li o livro...:))))
Os meus pais ficaram com os meus dois irmãos mais novos. O Meu João foi obrigado a fazer a tropa do ou no MPLA como mecânico de aviões. Depois ia sair uma outra que as raparigas também seriam obrigadas e a minha mãe veio pôr a minha irmã num colégio interno e nesta vinda o nosso João morreu num acidente com a sua moto e o médico de cá não deixou ir a minha mãe. O meu pai veio de vez e quando receberam uma carta de Angola sobre o levantar das ossadas foi a minha mãe que foi e ficou em casa de uns amigos que a ajudaram em tudo. A minha mãe juntou a dor de ter sido obrigada a sair (foi para lá tinha 2 anos) com a outra enorme dor da perda do filho...até hoje!
Beijocas e um bom dia
Se a pergunta é «Ponte aérea para retirada dos Estados Unidos do Afeganistão foi a maior da história?», a resposta só pode ser Não.
ResponderEliminarBoa semana, beijocas
Óbvio e o alerta foi de um cidadão que alertou para o NÃO!
EliminarBeijos e uma boa tarde
Pelo que leio aqui vou construindo uma imagem da Ftyly que já admirava por ser tão positiva, e com este texto ainda mais pelo que passou e pela força que teve
ResponderEliminarum beijinho e uma boa noite
Felizmente para além de rir de mim própria, nunca nada e ninguém roubou-me o sorriso e positividade/acreditar:)))
EliminarBeijocas e obrigada pelas tuas palavras