terça-feira, 5 de outubro de 2021

Outono numa vida...

 










Manhã bem cedo. Abro a janela e senti frio. Aconcheguei a roupa e vejo que a paisagem mudou.
Oiço palavras dos “vendilhões do templo” num cenário tão triste para uma época ainda mais triste. Ora faz frio, ora faz calor e as árvores despem-se das suas vestes e a pouco e pouco para gáudio dos políticos, vejo o vergar de tantos seres perante a exaustão da luta diária sem tréguas.
Há o embarcar na propaganda maquiavélica de compra hoje e pague amanhã, num acumular de contas por pagar sem saberem como.
Há regalias para os velhos, para as crianças, para os estudantes, para os novos empresários, para tudo, mas quase tudo não passa do papel.
Interrogo-me como é possível ver que a depressão vai tomando conta de todos, numa caminhada corrosiva e silenciosa deitando por terra as árvores que seriam o futuro de amanhã.
Não é possível estar parada perante este cenário e nada fazer. 

Mas o que fazer?

Já sei, vou levantar um a um e se pelo menos convencer dez que tudo poderá ser diferente, sentir-me-ei gratificada.
Há tantos meios de fazer alguma coisa em prol de...
Há que saber que não é no café, na família, no emprego, nos vizinhos, na estrada, nos transportes públicos que se deve descarregar a nossa raiva, mas em pequenos actos diários que nos são impostos contra os quais não concordamos mas que silenciamos e que se pensares bem podem mover montanhas empedernidas.

Hoje não paguei num café o que por incompetência me exigiram pagar e educadamente ainda apresentei queixa. Ganhei sim senhora!

Mas há quem se cale e eu jamais me calarei.

Levanta-te por favor e dá cá a tua mão porque não é o Outono que te põe assim, mas o gelo que te imobilizou os neurónios.

Aconchego-te para ser aconchegada e vamos acreditar que o futuro será bem mais risonho.

Fecho a janela mas deixo sempre a porta aberta!

Fatyly - 6 de Outubro 2007 numa participação de escrita.

AINDA DIZEM QUE A HISTÓRIA NÂO SE REPETE?

11 comentários:

  1. Nisto a história não se está a repetir. Ela não mudou daí para cá. Quiserem é que nós acreditássemos que tinha mudado.

    Podemos, de facto, resistir e mudar qualquer coisa. Bastam pequenos gestos. Por mim faço o que posso para minimizar os estragos que o assalto fiscal provoca na minha carteira. Planeamento fiscal, ir ali ao "lado" encher o depósito ou abdicar de factura onde isso for favorável são pequenos exemplos.

    Cumprimentos

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    1. Concordo com o que dizes embora te diga que fiz, faço e farei pequenos gestos até onde chegam os meus braços. Quanto ao "assalto fiscal" tenho pena de não poder ir ali ao lado atestar o depósito do carro:))
      Beijos e um bom dia

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  2. Foi para mim uma surpresa, e grande, quando cheguei ao final da leitura deste teu belo texto e verifico que já é de doutros tempos. Afinal, ele retrata a actualidade dos nossos dias...Coincidência?
    Andamos nisto há décadas e não passamos do mesmo.

    Beijos e tudo o melhor possível, menos resignação. Disso é que não!!

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    1. Sempre disse e para não dar em maluquinha que a história repete-se porque os que deveriam fazer mais pelo povo não fazem e continuo "na minha forma de ser e estar". Resignação? Numa de "se não os vences junta-te a eles"? Jamais, jamais!
      Beijos e um bom dia

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    1. É isso mesmo Pedro e temos que procurar sempre o equilíbrio!
      Beijos e um bom dia

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  4. Tinha escrito um comentário extenso mas o dito, talvez em consequência da minha fúria, apagou-se.:((
    Agora em síntese.
    Será que estamos condenados a ser governados por incompetentes que não têm um mínimo de respeito por nós todos, os que cumprimos, que pagamos impostos sobre impostos? Olhamos para as bancadas do parlamento e o que vemos?! Haverá, da esquerda à direita, alguém que nos ofereça um mínimo de credibilidade?
    Estamos cansados, esgotados, a cair numa situação de desesperança.
    Li o comentário do Pedro, a quem deixo, se me permites, um abraço.
    É facto que a "História e a Terra são circulares", o problema é que a rotação de uma e outra voltam sempre ao ponto de partida, ou seja, à exploração do mais fraco, ao desrespeito por todos quantos contribuem com o seu esforço e empenho na tentativa de conseguirem um mundo melhor, mais justo, mais equilibrado.:(
    E o resultado? Qual é o resultado? Todos o vivemos no nosso dia a dia, uns mais outros menos mas a realidade é que só escapam sempre os mesmos, os corruptos.

    Desculpa o arrazoado, mas este é um problema que me tira do sério.

    Gostei muito, mesmo muito do teu texto. :)) Que tal continuar a escrever? Vamos a isso, querida Fatyly? Força, vamos em frente!

    Obrigada pela partilha, gostei mesmo muito, e mais, conseguiste acalmar a fúria em que fico sempre que estes temas são abordados.

    Beijinho, guerreira.:))

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    1. Desde que me conheço que sei que haverá sempre no mundo os poderosos ou seja um desnivelamento entre ricos e pobres. Eu voto nas eleições para ficar numa de: fiz o meu dever cívico. A corrupção impera e vê lá o esquema de todos, respira fundo e adianta ficar enfurecida? Não a revolta só nos deita abaixo e baixa a nossa imunidade.
      Façamos o que pudermos e vamos à luta, não em manifestações que a meu ver é pura perca de tempo mas tratando o que achamos de errado no nosso dia a dia. Ontem por exemplo no meu passeio depois do almoço ajudei uma senhora de 82 anos que conheço há muito que estava a chorar no banco do jardim. Sentei-me ao lado dela conversei e imagina tu que, não tendo ninguém vai em Novembro para a Suíça onde está a filha e ninguém lhe conseguia tirar o certificado digital da sua vacinação. Peguntei-lhe se já tinha ido ao Centro de Saúde, à junta etc. Todos negaram-lhe. Ai é? Calma e venha comigo e vamos à junta. Chegadas e mal me viram expus a situação ao mal disposto de sempre que comigo não faz farinha...e trataram. Não refilei só o faria se pusessem objeções ui, ui. Saímos e nem imaginas a alegria da senhora que parecia que estava numa reza...obrigado vizinha, obrigado vizinha:)))))
      Acabei por não dar a volta que queria mas vim de alma cheia por ter ajudado quem mais precisou:)
      Nada posso fazer perante os barões dos Rendeiros desta vida mas faço o que me surge no dia-a-dia porque quando saio descontraída olho e observo tudo.
      Fica bem mulher linda e força:)
      Beijocas

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    2. Que bom é ler-te, que lufada de esperança é saber que ainda há pessoas como tu.
      Também estou muito atenta ao que me rodeia, também ajudo aqueles com quem me cruzo e vejo que precisam mas, querida Fatyly, sinto sempre que é tão pouco!:(((
      O teu testemunho devia ser publicado/divulgado mesmo nestes espaços, em letras bem grandes, isto para que os mais distraídos acordem.
      E aqueles que passam por alguém que estende a mão e não só viram a cara, como ainda vão a resmungar? A esses, Fatyly, só desejo que um dia, um só, necessitem de fazer o mesmo.

      Obrigada por seres o exemplo, obrigada pelas palavras que me ajudam a levantar do chão em que caio, cada vez mais, com as situações que vamos conhecendo de uns quantos que... nem merecem adjectivação d tão abjectos.

      Abraço apertado, Amiga.

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  5. Fatyly,
    Nem imagina como me solidarizo com tudo que escreveu em 2007 e que podia ter escrito agora.
    Tenho no meu blogue, vários desabafos, que infelizmente também continuam presentes.
    Se me permite coloco aqui este que fiz em 2015.

    "A injustiça, principalmente quando a sentimos na infância ou juventude, numa idade em que acreditamos nos outros, é uma mágoa que se instala dentro de nós, assenta arraiais e nunca desaparece.
    Ao longo da vida, se confidenciamos este espinho instalado dentro do coração, poucos compreendem, porque acham que é coisa do passado, sem importância.
    Quantos de nós transportamos estas feridas uma vida inteira, como uma voz escondida algures e que por maldade nos presenteia nos momentos mais inoportunos avivando-nos a memória.
    Ao atingirmos a idade em que aprendemos a escolher o que nos incomoda e por conseguinte tentamos viver em paz com o mundo, não é mais do que o momento em simplesmente deixamos de de ter expectativas sobre os outros e pensamos que deste modo já estamos curados e imunes a novas injustiças...pura ilusão
    Porque quando assistimos às injustiças que são feitas aos nossos filhos, às nossas crianças, aos nossos jovens, injustiças que lhes roubam a inocência e os sonhos próprios da sua condição, chegamos à conclusão que infelizmente a nossa antiga ferida continua sangrando."

    Não nos podemos vergar, nem que seja lutando através da palavra.

    Um beijinho comovido.

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    1. Real o que dizes e olha que raramente perco o pio mas desta vez não consigo escrever mais nada porque mal vejo as teclas. Obrigada pela partilha tão sentida.
      Um enorme abraço de agradecimento e um bom dia

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