Olá João
Partiste há 44 anos, na loucura das horas vagas, em que tu e os teus amigos punham motores de carros em motos e irem para o autódromo experimentar e por vezes também assistia. O quintal dos pais era onde tinhas a oficina:)))
No último regresso maldito marco da estrada que te pregou a finta e partiste na hora. Tinhas 21 anos! e eu já tinha estado no Brasil e regressado a Portugal e foi nesta casa que soube da noticia.
Mas não é disso que quero falar, mas do rapaz que foste em que pregavas tantos sustos aos pais e quando fazias alguma passavas pelo minha casa e era eu sempre que te punha remendos e curativos, ao som das tuas palavras: mana deixa-me experimentar tudo porque sei que vou morrer cedo ao que eu respondia está bem abelha.
Recordo o mês de férias que tive antes da tua sobrinha nascer em que na minha carrinha ia te buscar e mais 5 jovens e todos ao molho e fé em Deus rumava para a nossa praia. Lembro-me da tua /vossa preocupação quando me fazia ao mar e nadava e nadava escoltada por vós e tu sempre a dizer...ai mana ainda tens a criança numa onda e ainda falas de mim? E os búzios enormes que apanhavas e fazias numa chapa com brasas? Ainda hoje sinto o cheiro e o sabor e a tua sobrinha tem um enorme que a mãe trouxe e deu-lhe. Ambos eramos os filhos mais irreverentes!
Quando vejo imagens das guerras e de o povo a fugir, digo-te que ainda guardo o amuleto que me deste no caos do aeroporto de Luanda e o abraço que me deste e nunca mais te vi porque foste obrigado a ingressar na tropa da nossa terra.
"ai uê manô qui saudades de tu":) mas hoje estás na companhia do pai.
Nunca sonhei contigo nem com o pai mas nestes 44 anos houve duas situações que tive apenas contigo:
A caminho do meu trabalho em Lisboa na companhia de dois colegas, ouvi a tua voz a chamar por mim...Fatyly...Fatyly... o que me fez olhar para trás e não te vi. Inacreditável e os meus colegas perguntaram-me o que foi? Disse que te tinha ouvido chamar por duas vezes. Mas o teu irmão não está em Luanda? respondi que sim...e segui em frente. Dois dias depois morreste...11 de Fevereiro!
Hoje acordei e ainda estremunhada tive a sensação da tua mão na minha e ouvir umas palavras: mana continua a ser quem és e acredita que em breve virá a paz, diz isso à mãe. Não me recordo se sonhei só sei que dormi super bem.
Dei um pulo da cama e bastante serena arranjei-me, abri as janelas todas, fui ao pão e beber um café.
No regresso reparei que ontem não mudei a folha do calendário de secretária porque o sono já era por demais. Só o fiz quando me sentei aqui e vi que hoje farias 65 anos.
Que coincidências estranhas que por vezes a nossa mente nos prega.
UM ABRAÇO SINCERO PARA TI QUE TIVESTE A PACHORRA DE LER ESTA PARTILHA.
Esta partilha merece ser lida.
ResponderEliminarBeijinho, Amiga.
P.S. - esteja o teu irmão onde estiver ... parabéns!
Obrigado amigo e não fui capaz de contar à minha mãe, disse-lhe apenas "mãe um beijo do nosso João". Estava lavada em lágrimas e é uma dor que não passa mas ficou contente por me lembrar. Para ela as datas boas e más dizem muito mas já baralha umas quantas e a maioria ocorreram delas foi sempre no dia 11, número que detesta.
EliminarBeijocas
Ela sim sonha muito com eles e com o seu passado etc.
Não foi precisa "pachorra" para esta missiva saudosa.
ResponderEliminarAcredito piamente em todas essas sensações que relatas, também as tenho, por vezes. Não sou é nada de escrever no blogue este tipo de sonhos e lembranças familiares, mas concordo que outros o façam. Afinal, mesmo que as mensagens que se enviam aos seres que fizeram parte da nossa vida e acabam sendo lidas por outros, que não eles, servem sempre para darmos a conhecer as pessoas fantásticas que somos.
Tudo de bom para ti, Fatyly.
Subscrevo tudo o que dizes e até te agradeço de coração! Mas estas duas situações que senti não contei nada à minha mãe porque ela não acredita em nada disso.
EliminarTambém não me incomodam nada. Outra que me ocorre por vezes é acordar e sentir se as filhas e agora os netos e genros estão com algum problema. Desvalorizo, levanto-me e fico muito calma e se toca o telefone digo sempre a mesma palavra: Bingo. Talvez por ter sido mãe e pai não sei dizer a razão.
Também tudo de bom para ti, Janita
Beijocas
Amiga Fatyly, estou arrepiada de emoção.
ResponderEliminarSenti cada palavra porque foi escrita com todo o amor por seu irmão.
Um enorme abraço de amizade.
Obrigada por estar ENTRE NÓS! <3
Fê blue bird
Felizmente tenho em mente o ser vivo que foi, cheio de vida e dos seus enormes olhos azuis da cor do mar porque não pude ir ao seu funeral. Mais é algo que fujo a sete pés e só vou se quem cá ficar me disser muito, porque pelo falecido(a) sei que fiz tudo enquanto vivos.
EliminarBeijocas e obrigada
Há coisas incríveis.
ResponderEliminarÉ mesmo verdade!
EliminarBeijocas e obrigada
Uma homenagem muito sentida que fica gravada neste texto. As memórias que carecem de recolhimento para aplacar o desgosto.
ResponderEliminarUm abraço.
É bem verdade!
EliminarBeijocas e obrigado
Boa tarde
ResponderEliminarSó não chora quem não tem coração ❤️
JR
A minha mãe sempre chorou muito e agora agarrada às notícias ainda mais ao invés de mim que é muito raro eu chorar mas em frente ao mar aí dou vazão a muita coisa.
EliminarBeijocas e obrigado
Pessoas que partem mas que fiquem sempre no nosso coração.
ResponderEliminarPercebo perfeitamente.
Beijos
Obrigado e é mesmo verdade!
EliminarBeijos e um bom dia
Bonito.
ResponderEliminarEu acredito nessas "vozes".
Também as tive. Não lhes prestei atenção. Estavam certas.
Chamemos a isso tão somente "intuição".
O nome pouco importa. O bom é ter essa capacidade e saber quando ouvir o que nos é dito.