26 de Janeiro de 1951
Decorria o mês de Janeiro, último da chegada de mais um rebento. O calor era imenso, como era imensa a sua barriga que mal podia andar. Depois das lides habituais e com a sua nova companhia, descansava numa cadeira à sombra da mangueira. No colo um cesto cheio de maçãs que habitualmente comia durante a sua gestação.
Passou um avião e de olhos postos no céu, pensava se o seu marido chegaria a tempo de estar presente na hora em que o seu segundo filho ou filha cumprimentaria o mundo. A sua lavadeira, conhecedora do assunto, abeirando-se e pondo a mão curtida sobre a sua barriga, numa carícia disse-lhe: tá quase e acredite que vão ser dois. Tu não me digas isso, porque assustada já estou eu!!!! Tenha calma menina, porque os deuses vão estar do seu lado e eu, mais a MR e a Dª. Carmo parteira vamos ajudar a senhora.
Era linda, muito linda e duas lágrimas caíram dos seus não menos lindos olhos verdes acastanhados. Pegando na sua filha com 2 anos, entrou em casa! Sentou-se de novo na máquina de costura e voltou a pegar na agulha e linha, um dos seus ganha pão!
Os dias foram decorrendo normalmente preenchidos por muito trabalho, longas caminhadas na entrega das suas costuras e tratando da sua filha.
Estafada deitou-se e adormeceu, mas por diversas vezes acordou num incómodo constante.
Estafada deitou-se e adormeceu, mas por diversas vezes acordou num incómodo constante.
Na madrugada do dia 26 de Janeiro de 1951, sexta-feira, pelas dores que sentia, sabia que tinha chegado a hora.
Calmamente abriu a persiana e o sol já nascia no horizonte no seu aviso africano de que seria mais um dia de grande calor! Sem hora certa, também o seu marido chegaria de viagem.
Sentou-se na cama a sentir a brisa matinal e o pontapear cada vez mais forte do seu bebé.
Calmamente abriu a persiana e o sol já nascia no horizonte no seu aviso africano de que seria mais um dia de grande calor! Sem hora certa, também o seu marido chegaria de viagem.
Sentou-se na cama a sentir a brisa matinal e o pontapear cada vez mais forte do seu bebé.
Olhou para a mesinha de cabeceira. Pegou nos dois bilhetes para a grande estreia do toureiro Diamantino Viseu e aceitou com resignação o facto de que não poder ir. A sua filha ainda dormia com a MR.
Foi ao quarto da lavadeira e mediante os sinais mais que visíveis, pediu-lhe que fosse chamar a sua grande amiga TZ e a DªCarmo parteira, é para já minha senhora e atando melhor o lenço na cabeça (gesto que fazia quando ficava nervosa) foi num pé e veio no outro, no seu sonoro e gestual “ai ué mamã, ai uéee”.
Foi ao quarto da lavadeira e mediante os sinais mais que visíveis, pediu-lhe que fosse chamar a sua grande amiga TZ e a DªCarmo parteira, é para já minha senhora e atando melhor o lenço na cabeça (gesto que fazia quando ficava nervosa) foi num pé e veio no outro, no seu sonoro e gestual “ai ué mamã, ai uéee”.
Preparou o quarto com a MR, pondo tudo a jeito e entrou em trabalho de parto às 7h e 30, rodeada pelas referidas amigas eternas.
Depois de uma longa espera e muito sofrimento, pelas 14h e 30, nasceu uma menina e outro, que pelo massa morta e disforme num aglomerado de carne, cabelos e ossos não deu para perceber o sexo, mas eram gémeos. De imediato foi chamado um médico enquanto tratavam da “gordinha” com quase 5kg que depois de lavadinha e perfumada, num chambrinho feito pela jovem mãe, adormeceu ao seu peito. O médico confirmou que de facto eram gémeos falsos, mas que tinha havido um bloqueio no cordão umbilical o que originou o “seu não progresso”, mas que quer a mãe nos seus 20 anos, quer a “gordinha” estavam de perfeita saúde.
Depois de uma longa espera e muito sofrimento, pelas 14h e 30, nasceu uma menina e outro, que pelo massa morta e disforme num aglomerado de carne, cabelos e ossos não deu para perceber o sexo, mas eram gémeos. De imediato foi chamado um médico enquanto tratavam da “gordinha” com quase 5kg que depois de lavadinha e perfumada, num chambrinho feito pela jovem mãe, adormeceu ao seu peito. O médico confirmou que de facto eram gémeos falsos, mas que tinha havido um bloqueio no cordão umbilical o que originou o “seu não progresso”, mas que quer a mãe nos seus 20 anos, quer a “gordinha” estavam de perfeita saúde.
Ah “mia siôha” como é linda e "sabi"? vai ser uma lutadora então não viu “os bagunça onde ela "virveu" nos nove luas”? Tadinha e pondo um ar sério no seu rosto preto, tocando a “gordinha” com aquelas mãos curtidas, balbuciou no seu dialecto...as preces aos seus deuses, terminando com um sorriso tão lindo e meigo. Agora “discansii tá”?
Repousava quando o seu marido chegou pelas 16 horas, indo direitinho ao quarto, mas com a frustração estampada no rosto (outra menina?), saudou-as efusivamente e deu um beijo às duas. Com mil pedidos de desculpas tão esfarrapadas mas acatadas com um sorriso, lá foi ele com uns amigos a caminho da dita tourada, todo bonito e penteado com brilhantina, porque de facto era um homem com muito charme.
A bela jovem de olhos castanhos esverdeados ficou com as suas meninas e as visitas constantes de toda a vizinhança.
Anoitecia e pelas 18h,30 o seu marido regressou! Trazia na mão um enorme ramo de malmequeres! Abeirou-se dela, beijou-a e disse: ofereço-te com carinho o que encontrei em cima do carro!
Anoitecia e pelas 18h,30 o seu marido regressou! Trazia na mão um enorme ramo de malmequeres! Abeirou-se dela, beijou-a e disse: ofereço-te com carinho o que encontrei em cima do carro!
Pegou de novo na “gordinha” que dormia longe, bem longe da luta interior de uma jovem, que mal ele saiu do quarto, mandou a TZ pôr o ramo no caixote do lixo.
Ele ao ver passar o ramo pela sala onde se encontrava a jantar...nada disse, porque sabia que não tinha procedido corretamente.
Ele ao ver passar o ramo pela sala onde se encontrava a jantar...nada disse, porque sabia que não tinha procedido corretamente.
Uma ano depois em Março de 1952 nasceu o primeiro rapaz e assim foi por mais duas vezes, num total de cinco filhos.
Entre altos e baixos, foram felizes, muito felizes porque de facto o amor entre os dois era imenso, como foi imensa a luta árdua que tiveram para criar a sua prol.
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Entre altos e baixos, foram felizes, muito felizes porque de facto o amor entre os dois era imenso, como foi imensa a luta árdua que tiveram para criar a sua prol.
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A “gordinha” SOU EU, que anteontem ao fazer 71 anos conto-vos uma história sucinta, mas real e simples, que ouvi vezes sem conta e que consta num livro branco que ela escreveu sobre a sua vida e que deu uma cópia a cada filho
Que rica peça que saí ... hem??!!!!
FIM
Que rica peça que saí ... hem??!!!!
FIM
Uma narrativa deslumbrante que me deliciou ler. 71 anos uma idade lindíssima. Muitos parabéns.
ResponderEliminar.
Sexta-feira feliz … Sorrisos poéticos.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Obrigado.
EliminarBeijos e um bom dia
Muito bonita a história do teu nascimento contada pela senhora tua mãe.
ResponderEliminarPelos vistos a filha saíu à mãe no gosto pela narrativa. :)
Parabéns uma vez mais e quando voltares ao Lar dá um beijinho meu a essa linda jovem de olhos castanhos esverdeados.
Grande Mulher que ainda hoje mostra a sua personalidade, não se vergando às vontades alheias ... :))
Outro grande para a gordinha que agora adelgaçou. :))
Ela escreveu dois livros mas não editados. Um é desde que ela nasceu e as voltas que a vida lhe deu até ao seu casamento. O outro é a partir do nascimento dos filhos, netos e bisnetos. Ainda estava na sua casa.
EliminarJanita ela ainda hoje escreve todos os dias fazendo o resumo do dia. Em Dezembro ofereço-lhe sempre uma agenda e já lá tem a 6ª porque em Fevereiro fará 6 anos que está no Lar.
Darei sim e por vezes imprimo coisas daqui e levo-lhe e ela fica contente. Depois do tratamento à vista voltou a ler, escrever e crochetar:))))
Beijocas e obrigada
Muitos parabéns, embora atrasados, Fatyly.
ResponderEliminarQue maravilhosa descrição do seu nascimento, que ficou bem registado pela sua mãe.
5 kgs para uma menina, é obra! Por isso tem essa força de vontade e coração enorme, Fatyly.
Imagino a dificuldade de criar tantos filhos, mas também a alegria de ter uma família grande, eu como filha única "invejo-a" um pouco.
Conte muitos anos com saúde e alegria de viver, é sinceramente o que lhe desejo.
Um grande beijinho com admiração!
Fê
Éramos cinco mas o meu irmão João (4º filho) morreu. Além de nós o meu pai também deu guarida ao filho da nossa lavadeira a Lemba e depois a mais outro amigo deste. Era muita alegria sim mas ter ou não ter uma família grande ex a questão, porque agora somos 4 filhos e três não se falam, mas todos falam comigo e já tem 10 netos e 14 bisnetos. Quem a visita? quando Peço ajuda para irem com ela a uma consulta, pois é isso mesmo e sobra sempre para mim e para a minha filha que mora ainda mais perto do Lar.
EliminarTenho uma irmã igualmente perto mas sempre muito ocupada e não vale a pena criar problemas. Peço a todos que não lhe contem "desgraças familiares" mas fazem o contrário como se a minha mãe estivesse ainda na casa dela. Já não basta ver a porcaria do canal CM e ainda a preocupam e sou eu o saco de pancada. Estou sempre a par dos assuntos de saúde dos meus irmãos e das minhas filhas e netos mas da minha parte só sabe depois de tudo estar bem.
Gerir esta pandilha não é fácil mas enfim já me habituei:)))
Beijocas e obrigada
O "problema" das famílias grandes é mesmo esse, encostarem-se uns aos outros, e claro sobra sempre para o que tem mais sensibilidade e bom coração.
EliminarTanto eu como o meu marido somos filhos únicos, não há problemas com heranças e os nossos pais só contavam connosco, felizmente estivemos sempre presentes.
Ainda agora, tenho a única sobrevivente, a minha sogra com 92 anos a viver desde Dezembro connosco.
Gerir pais e filhos nesta pandemia não está mesmo a ser nada fácil, mas cá vamos resistindo e lutando, tem que ser!
Grande beijinho e obrigada.
Não há heranças e eu pedia muito a Deus que ela vendesse a casa em vida e em 2014 e 2015 procurei uma casinha para as duas, mas em cima de ir ver, desistia.
EliminarCom a morte dos meus tios paternos e maternos houve touradas com os filhos sobre as heranças que não te digo nada. O meu pai ainda era vivo e resolveu tudo.
Não sei da maior parte dos meus primos que se desligaram completamente, dois telefonam à minha mãe e um deles já a foi visitar ao lar. De resto não procuro.
Também no meu trabalho vi histórias nos processos de heranças que nunca pensei na vida.
Beijinhos e uma boa noite
Passando, relendo, elogiando, e deixando votos de um Feliz fim-de-semana.
ResponderEliminar.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Obrigado e retribuo os votos.
EliminarBom fim de semana
Bom dia
ResponderEliminarUma historia verdadeira que vai ser contada muitas mais vezes com certeza pois estas ficam mesmo para a posteridade.
Muitas felicidades .
JR
E tem tantas e umas muito hilariantes.
EliminarBeijos e obrigada
Histórias para continuar a recordar.
ResponderEliminarSaúde para todos vós, Amiga.
Beijocas
É verdade e também desejo que estejas bem assim como os teus.
EliminarBeijocas e obrigado
Muito ler e reviver também um passado. Acho que agora não não ficam estas histórias. A vida é muito stressante. Adoro ouvir a histórias antigas. Obrigada pelo que partilhou connosco. Muitos parabéns. Felicidades! 🍀🌹🎂
ResponderEliminar-
O peso das palavras
Beijos, e um excelente fim de semana.
Ela nos livros descreve outras situações de morrer a rir e uma delas é como conheceu o meu pai:))) era fresca, era:)
EliminarEu não sou muito fã de histórias antigas sobretudo as negativas e devias estar perto dela porque adora contar:)))
Há muita coisa do meu passado que não me recordo e só lhe peço para não avivar a memória negativa porque quando me dá os parabéns recorda igualmente coisas do meu casamento com o pai das minhas filhas. Felizmente nunca mais o fez.
Beijocas
amigam se não existisses, tinhas de ser inventada:)
ResponderEliminarBeijocas
Obrigada amiga :))))))
EliminarBeijos e um bom fim de semana