quinta-feira, 23 de novembro de 2023

BALADA DA NEVE

 








Batem leve, levemente,
Como quem chama por mim...
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim...

É talvez a ventania;
Mas há pouco, há poucochinho,
Nem uma agulha bulia
Na quieta melancolia
Dos pinheiros do caminho...
Quem bate assim levemente,
Com tão estranha leveza
Que mal se ouve, mal se sente?...
Não é chuva, nem é gente,
Nem é vento, com certeza.
Fui ver a neve caía,
Do azul cinzento do céu,
Branca e leve, branca e fria...
-Há quanto tempo a não via!
E que saudade, Deus meu!
Olho-a através da vidraça
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
Os passos imprime e traça
Na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
Da pobre gente que avança,
E noto, por entre os mais,
Os traços miniaturais
Duns pezitos de criança...
E descalcinhos, doridos...

E descalcinhos, doridos...
A neve deixa inda vê-los,
Primeiro bem definidos ,
-Depois em sulcos compridos,
Porque não podia ergue-los
Que quem já é pecador
Sofra tormentos... enfim!...
Mas as crianças, Senhor,
Porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,
Uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa,
cai neve na natureza...
E cai no meu coração.

AUGUSTO GIL

14 comentários:

  1. Bom dia
    Os lindos poemas são sempre bem vindos !!

    JR

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    1. É verdade e este aprendi nos bancos da escola:)
      Beijos e um bom dia

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  2. Quem não se lembra desta maravilha de Augusto Gil?
    Beijocas

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  3. Boa tarde de paz, querida amiga Fatyly!
    Cai a neve em meu coração também...
    Temos mais do que motivos para estarmos sob o manto desolador e frio mundial.
    Tenha dias abençoados!
    Beijinhos com carinho fraterno

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    1. É verdade o que dizes mas não largo a mão da esperança que vai dar tudo certo. Obrigada amiga!
      Beijos e um bom dia

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  4. Velhinho e sempre comovente.
    Desce que o aprendi nos bancos da escola primária nunca mais o esqueci. Tentei ensiná-lo ao meu neto João, mas nunca consegui. Quando eu lhe recitava - talvez em tom demasiado dramático - a parte : "Mas as crianças, Senhor, porque lhes dais tanta dor...?" A voz embargava-se-me de emoção, ficava rouca e não conseguia avançar. Tantas vezes isto se repetiu que o garoto, quando se aproxima a fatídica pergunta, desatava a rir e ficavamos por ali. Ainda hoje falamos nisso, embora ele pouco ou nada se lembre. Tanto mais que não aprendeu o poema no Colégio.
    Vendo bem, nem tudo foi mau no antigamente...
    Beijinhos

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    1. E eu ensinei às filhas e às duas netas que ainda hoje recordam esta pérola! O teu neto ficou traumatizado:))))
      Beijos e um bom dia

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  5. E eu fui lembar o Herman José e o poeta alentejano.
    Absolutamente genial :)))
    Bjs, bfds

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    1. Irei ver embora nunca tenha sido grande fã do Herman:))
      Beijos e um bom dia

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  6. Esta balada é tão inspiradora, também já me inspirei nela em Fevereior de 2020. Gostei da foto de suporte.

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